sábado, 9 de janeiro de 2010

Sem vergonha

Oi amigos, tudo bem?
Há alguns dias contei a minha experiência na sala de espera, falando sobre a naturalidade de falar sobre minha doença e de não me incomodar mais com a reação dos outros.
Sim, por muito tempo me incomodei com aqueles olhares. Hoje eu olho e penso: coitados, são ignorantes. Eles não entendem.
Mas, tudo isso tem a ver com a vergonha.
Vergonha: 1.Desonra humilhante, opróbrio. 2.Sentimento penoso de desonra ou humilhação perante outrem; vexame, afronta. 3.Timidez, acanhamento. 4.Pudor. (Dicionário Aurélio).
Há alguns dias vi um diálogo interessante sobre essa vergonha que a gente tem da própria doença na novela Viver a Vida. Não sou muito de ver novela, mas aquele dia, escutando o diálogo, parei pra ver e concordar.
A cena era mais ou menos assim, a menina que está tetraplégica (Luciana) diz não querer sair de casa porque ela tem vergonha de ser tetraplégica. Não pela cadeira de rodas, mas por ter a deficiência. A mãe dela diz que ela não tem que ter vergonha de uma coisa que não é culpa dela. Ela diz que sabe disso, mas mesmo assim tem vergonha.
Lembrei de euzinha própria há alguns anos. Eu tinha vergonha de ter EM. Vergonha de precisar dos outros. Vergonha de dizer que tinha uma doença.
Eu sei, não tenho culpa de ter EM. Mas a gente sente como se devesse ser "normal", e nossas deficiências funcionam como uma afronta a sociedade, que espera que sejamos "normais". Assim, nos sentimos humilhados e com vergonha de ser esse ser anormal.
A vergonha controla os atos de todos nós, do gari ao presidente da república (se bem que o presidente não tem tanta vergonha assim).
Não fazemos coisas porque temos vergonha, pra não sermos ridículos, pros outros nos aceitarem como pessoas normais.
Ter EM ou qualquer deficiência ou doença é uma afronta a normalidade do mundo. Que vexame! Você não age como os outros e tem necessidades diferentes da maioria das pessoas!
Por muito tempo senti como se não fosse "merecedora" do mundo, afinal, que vergonha, eu tenho uma doença, eu não "presto pra nada" nessa sociedade.
E é por isso que muita gente deficiente não sai muito de casa (além da falta de acessibilidade). É por isso que demoramos a falar que temos uma doença, principalmente se ela não é aparente, como a EM. Que demoramos a falar sobre ela como uma coisa natural.
Se a deficiência é visível ou você usa bengala, muleta, etc, a vergonha é maios ainda. Afinal, as pessoas te olham dum jeito diferente sim. Lembro quando eu andava de bengala. Era só eu entrar no ambiente que os olhos se viravam para mim, aquele olhar de "ah, coitada". Péssimo. Mas também me acostumei com isso até dar risada.
Me chateei muito por ter que explicar que diabos é Esclerose Múltipla. Hoje já não me incomodo. Quer dizer, me incomodo quando vejo que a pessoa não quer entender de verdade ou quando não to com saco pra nada de nada.
Mas, num momento da minha vida, não sei dizer exatamente quando, vi que era uma bobagem ter vergonha de ter uma doença. Afinal, ter a doença é ruim pra mim, não pros outros. Não é a sociedade que sofre com a EM, sou eu. Então, pra que ter vergonha de "não ser normal" se essa anormalidade não ofende nem fere ninguém? Por que ter vergonha duma coisa que eu não tenho culpa? Porque ter vergonha de algo que de alguma forma, faz parte de mim?
É, mas esse não é um processo rápido, que acontece duma hora para outra.
Por isso que, quando alguém me diz em segredo que tem EM, respeito o tempo que essa pessoa precisa pra se acostumar a ter a doença, pra conseguir falar sobre ela com naturalidade.
Esse processo começa com a família e os amigos mais próximos. Quando vemos que conseguimos falar sobre a doença com as pessoas mais importantes da nossa vida e não isso não nos incomoda, é que nos sentimos a vontade pra falar sobre a doença para o mundo. Afinal, se quem está perto de nós entende, os outros que se danem.
Aí, a coisa vai ficando cada vez mais normal. Até o dia em que você finalmente liga o "foda-se" e vive com a doença normalmente. Ainda bem que eu consegui ligar o "foda-se" e perdi a vergonha antes da faculdade. Me poupou de muitos perrengues.
Mas se você ainda está na fase da vergonha, não se preocupe, isso é normal. Muito normal. Só não deixe essa fase ser looooonga demais. Vai ser melhor pra você, acredite.
Faça como eu, vire um sem vergonha... sem vergonha de ser feliz do jeitinho que eu sou.
Aproveitem bem o fim de semana!
Até segunda-feira!
Bjs

3 comentários:

  1. Amo essa menina... E o que ela sente, assume, escreve!
    Bjão e boa semana!

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  2. Adri também amo essa grande menina!!!!!
    Ela passa uma coragem, uma força pra gente que não tem nem explicação.
    Demorei um pouquinho também Bruninha, mas ligar o botão do "foda-se" e viver bem foi a melhor coisa que fiz.
    Bjos minha querida e boa semana!!!

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