quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O inferno são os outros

Oi gentes, blz?
Há alguns dias me perguntaram o que mais me incomodava na EM. Bem, muita coisa incomoda. A fadiga, os surtos, as dores, os remédios, as "surpresas", etc.
Mas pra tudo isso eu estou mais ou menos preparada. Sei que pode acontecer.
Agora, uma coisa que a gente não se acostuma nunca é com as perguntas bestas que as pessoas continuam fazendo, mesmo depois de 10 anos. Perguntas do tipo: mas dói mesmo? "Não, to fingindo pra sentirem dó de mim". Oras...tem cabimento alguém perguntar se tá doendo mesmo depois de você repetir duzentas vezes que está com dor?
Mas pior que essa é aquelas receitas que as pessoas dão. Você está lá, todo esgualepado e vem alguém perguntar o que está doendo. Aí você (no caso eu) digo que são as pernas. Mas a dor não é exatamente da perna, é dor neuropática (leia aqui sobre esse tipo de dor). Aí vem sua vó, tia, vizinha, o escambau com uma receita caseira de remédio pra dor nas pernas. E mesmo você tendo explicado trocentas vezes que não é bem assim a dor, elas insistem nisso.
Há alguns dias minha avó estava cogitando milhões de causas pras minhas dores (claro que a EM não estava sendo considerada por ela). E claro, milhões de chás, ervas e comidas que vão servir pra curar. Afinal, curou a dor da vizinha ou de não sei quem. Sou a favor do uso de chás, ervas e comida como tratamento, mas isso já é tema pra outro post. O caso é que, depois de quase 10 anos de EM, você já fez esses experimentos e sabe que não funciona.
Depois de ouvir a pergunta: porque que tu não faz nada pra dor?
Como assim não faço nada?
Esquentei e disse: vó, eu vou pegar todas essas suas ervas e dentes de alho (sim, alho serve pra tudo) e colocar na sua boca pra senhora parar de falar bobagem.
Eu sei, não devia ter falado dessa forma, foi meio grosseira. É minha avó, eu amo de paixão, mas chega uma hora que não dá pra aguentar. Acho que de vez em quando a gente precisa explodir, mesmo com as pessoas que a gente ama. Não sei se é porque elas acreditam na gente quando a gente explode, ou porque ficam com medo de outra explosão, mas param de falar sobre o assunto. O que já é um grande alívio.
Então, pensando bem sobre o que me incomoda mais na EM, provavelmente são os outros. Ou melhor, a idéia que os outros tem de que a gente não faz nada pra melhorar. Eu tenho vontade de dar "um dia com EM" pra um monte de gente. Acho que só assim algumas pessoas entenderiam como é ter EM. Como são as dores, as fraquezas, etc.
Se fizermos uma enquete, aposto que isso incomoda todo esclerosado. Então, amigos, o jeito é a gente tentar explicar; ficar quieto às vezes, porque tem gente que nunca vai entender pelo simples fato de não querer entender; e às vezes explodir, afinal, não temos sangue de barata e o botão do "foda-se" não funciona sempre.
Jean Paul Sartre devia estar passando por um dia desses quando disse que "o inferno são os outros"; sem esquecer que nós somos os outros também e que sem os outros não se vive.
Até amanhã!
Bjs

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