quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Diário de viagem - Dinamarca - parte 2

Nyhavn

Oi queridos, tudo bem?
Bom, na primeira noite foi fácil de dormir. Difícil foi tomar banho. O banheiro era minúsculo e o chuveiro parecia mais um chuveirinho pendurado no teto. Como não tinha barra de apoio no banheiro, tomei meu banho sentada no vaso (isso é pra vocês terem uma ideia do tamanho do banheiro :P). Eu falei com a Thaís sobre isso também, que não precisa perguntar pras pessoas que tem EM se precisam de um banheiro acessível, porque é lógico que precisa. Barra no chuveiro e apoio pra levantar do vaso sanitário é o básico do básico. Até dava pra trocar de quarto no outro dia... mas eu aceitei tomar banho no vaso pra não precisar arrumar tudo na mala de novo. Não dava pra ficar perdendo tempo.
Eu tava morreeeeendo de sono depois de tanto tempo de viagem. Acordei cedinho no outro dia e fui pro café da manhã descobrir que os pães deles são muito bons. Depois de uma boa dose de cafeína, saímos pra conhecer a cidade à luz do sol.
Jefferson, Grayce, Jobson e Euzinha tomando café da manhã
Antes de sairmos do Brasil, descobrimos que não poderíamos participar de nada do ECTRIMS. Algo com a lei brasileira de que paciente não pode ter contato com promoção de medicação, etc. Palhaçada né... um país que pode ter propaganda de remédio pra tudo em tv aberta mas não deixa pacientes saberem o que os médicos estão pesquisando (bruna em campanha pelo fim da propaganda de remédios). Bom, mas demos uma passadinha no hotel/centro de eventos em que o ECTRIMS tava acontecendo pra deixar um material da Apemsmar lá com eles (prometo um post sobre o que eu li e soube desse último ECTRIMS, que não foi pouca coisa).
Enquanto esperávamos o pessoal achar o povo da imprensa lá, ficamos admirando a arquitetura do prédio. Uma coisa deslumbrante.

Rodrigo, Jobson, Eu e Jefferson

Bella Sky Tower


Eu, me achando na frente das torres

Como não podíamos ir no congresso, o pessoal da Novartis marcou um almoço com alguns médicos brasileiros parceiros da Novartis que estavam participando do ECTRIMS, para conversarmos, ver o que tava rolando lá dentro e tal. Demos uma voltinha na principal rua de compras de Copenhague e, de quebra, pegamos a troca de guarda da rainha:




Dali fomos para o restaurante onde seria o almoço. Eu estava encantada com as construções, as cores, a organização de tudo. A cidade é cortada por canais... e eu, como amante de lugares com água, estava achando tudo lindo. O nosso restaurante era na frente de um desses canais. E foi ali que eu vi, pela primeira vez um pato desses de pescoço verde. Sabe aqueles que a gente vê em desenho animado mas nunca vê de verdade? Então, tinha aos montes por lá

Pato de desenho animado

Quando chegamos eu vi que o EraOra é um restaurante super bem cotado no Guia Michelin (dá um look no site deles: http://www.restauranteraora.com/).
Entrando no restaurante me encantei com a apresentação. E, bem... conforme fomos atendidos, eu me senti a própria Padma, do Top Chef. Sim, eu sei que vocês todos devem ter vida social e não ficam sábado à noite vendo Top Chef na Sony, mas eu faço isso frequentemente e achava o máximo aqueles pratos cheio de explicações, explosões de sabores, cores, etc. Desculpem a minha pobreza (não sei se essa é a palavra certa), mas achei que nunca iria num restaurante desses na vida. Bom, se eu estivesse pagando, certamente não iria. Então, valeu Novartis pela experiência gastronômica que foi essa delicioso almoço.
Só pra vocês ficarem morrendo de inveja, olhem só o que foi o menu (sim, porque pobre que é pobre tira foto da comida pra mostrar pros amigos):

No canal, em frente ao EraOra


Povo reunido pro almoço. Lado esquerdo: Fernanda, Rodrigo, Jobson, Grayce e Jefferson.
Lado direito: Alessandro, Juarez, Janaina, Marcia, Eu, Thais.

Olha a cara de feliz da criança ao ver a entrada

Prato de entrada (que eu não faço ideia de como explicar...mas era uma delícia)

Prato principal, uma massa deliciosa com molho de tomate e manjericão, queijo e pinole

Segundo prato quente, com 4 tipos de carne, cebola caramelizada e mais alguma coisa que eu não sei o que é

Sobremesa (inexplicável)

Acompanhamento do cafézinho: chocolates recheados,
algo parecido com uma queijadinha e suspiro com amêndoas

Foto de catálogo by Jeff


Ó o "carimbo" Michelin aí


Até uma cópia do cardápio a gente pediu. Senão, como é que eu ia conseguir dizer o nome das coisas que eu comi né? Hehehehehe
Bom, além de uma experiência gastronômica muito boa, a presença dos médicos Fernanda, Alessandro e Juarez e da neuropsicóloga Janaina foi muito boa também. A Fernanda trabalha na Unifesp e na Novartis, o Alessandro eu já conhecia de nome, afinal, ele atende aqui no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e boa parte dos meus amigos daqui se tratam com ele. Já o Juarez e a Janaina são de Santa Maria, parceiros da Apemsmar e, por consequência, nossos parceiros também. A conversa foi bastante agradável e acho que um grande aprendizado, pra gente e pra eles também. A Marcia até aproveitou para começar as entrevistas pro canal dela no Youtube sobre EM. Vejam e já assinem o canal que vem muita coisa boa por aí:



Depois desse almoço, fomos para o Nyhavn, um canal/bairro muito popular da cidade, cheio de barzinhos, restaurantes e histórias. Hans Christian Andersen morou em três endereços do Nyhavn. Quando eu soube que ia pra Dinamarca e joguei a palavra Copenhagen no Google, uma foto de Nyhavn era a primeira coisa que aparecia. E é realmente um lugar encantador.



Fomos lá pra pegar um barco que faz um passeio por toda a cidade através dos canais. Tava um friiiiiiiiiiiiiiiooooo desgraçado. E o vento batendo no rosto era de cortar (literalmente, meu nariz e boca ficaram rachados de frio). Mas como não é todo dia que eu tô em Copenhagen, fui lá do lado de fora do barquinho com a Marcia e o Jefferson, os sobreviventes do frio. É um passeio lindo que vale a pena ser feito.

Passando frio...

Tá vendo aquela sujeirinha em cima duma pedra? É a Pequena Sereia de costas

A Case de Ópera, que eu achei muito linda

Borsen, a antiga bolsa de valores, com 4 dragões na torre...que é na verdade o rabo dos dragões entrelaçados

Congelando


Na volta ainda comemos um cachorro quente delicioso. Se eu tivesse pagando minhas contas, ia viver desse cachorro quente todos os dias...ehehehe. Já tava escurecendo e o frio pegando forte, mas como não tínhamos muitos dias por lá, decidimos ir na estátua da Pequena Sereia tirar umas fotinhos, mesmo de noite. Ela é pequeniniiiiiiinha. Mas valeu a pena ir até lá. Enquanto a gente tirava umas fotos, apareceram alguns cisnes. Tipo, dois contos do Andersen em uma cena só...heehhehe

Olha aí a Pequena Sereia de frente agora


De volta ao hotel combinamos de dar uma descansadinha e nos encontrar no hall pra sair e jantar.
O taxista nos levou num lugarzinho que tinha alguns restaurantinhos bem bacanas e disse que ali perto era o bar de gelo. O tal bar de gelo, que eu não sabia que tinha lá, era um sonho da Thais. Como o taxista disse que era pertinho, decidimos ir até o bar. Aí a gente andou, andou, andou... e andou um pouco mais, perguntamos pras pessoas na rua, perguntamos pra um guardinha, tiramos fotos na frente da loja da Lego...



...e, quando estávamos desistindo porque as pernas estavam travando, achamos o hotel do bar de gelo. Chegando lá, que decepção: o bar fechou há tempo. Deu pra tirar uma fotinho divertida no hall do hotel...



...mas nada de bar de gelo :P
Voltamos um pouco no caminho que tínhamos andado e paramos pra jantar, enrolados em cobertores embaixo de aquecedores pra não congelar.

Um brinde ao bar de gelo! hehehehehe

O Jeff brincando de comensal da morte...eheheheh

Minha janta saudável 

Depois de tanta aventura, tudo que eu queria era banho e cama.
Tomei meu banho, falei com o Jota antes de dormir e me deitei. Só que daí comecei a passar mal. Não sei se foi o frio, a fadiga, a garganta que já não tava muito boa, o fuso horário, o esforço do banho (porque vocês sabem, banho pode ser remédio mas pode ser veneno)... só sei que eu fiquei mal de não conseguir levantar da cama. Meu braço tava pesando uns 500kg. Nem que eu quisesse chamar alguém pra me ajudar dava. Aí deu aqueles minutos de pânico. De não saber o que fazer. Pensei que eu não podia morrer num hotel na Dinamarca... aí lembrei de pensar racionalmente de novo, de lembrar que quando eu fico assim eu tenho que me acalmar, respirar bem fundo várias vezes e esperar que o mal estar e a fadiga monstra passe. Respirei fundo, chorei um pouco e em pouco tempo eu tinha me acalmado. O mal estar só passou no dia seguinte. Nesse dia eu demorei mais pra dormir e acho que só dormi de cansaço, porque quando eu fico assim tenho medo de dormir. Não é a primeira vez que me acontece, mas como eu nunca estou sozinha, quando acontece isso eu peço socorro. Mas como pedir socorro lá, na situação em que eu estava?
E, mesmo que eu conseguisse ligar pra Thais, pra Marcia que estavam cada uma em seus quartos, não ia adiantar muito, porque quando a fadiga faz isso comigo, não há remédio nem técnica que faça passar, mas o carinho, o cuidado e a segurança que minha mãe, o Jota, minha prima, que pessoas próximas de mim me passam, fazem eu me sentir menos pior. Às vezes minha mãe diz "mas minha filha, eu me sinto impotente porque não posso fazer nada"... não precisa, só de ter a presença de alguém que me passa segurança eu já me sinto melhor. Eu sinto que logo vai passar. Ao contrário de quando eu tô sozinha, que daí eu penso que vou morrer em 5 segundos. Pode ser exagero meu, mas quem já sentiu seu corpo amarrado na cama, como se toda a gravidade do planeta te puxasse pro chão sabe do que eu tô falando. Por isso que eu falo da necessidade do acompanhante. Um esclerosado em pânico, no outro lado do oceano, pode desencadear um surto. Não é só pra empurrar cadeira de rodas ou ser apoio na hora de caminhar que um acompanhante é necessário. Existem pequenos detalhes sobre viver com EM que as pessoas precisam aprender.
Mas já que o pessoal da Novartis não entende ainda muito bem de EM, eu me entendo muito bem e tomei uma decisão: nunca mais viajo sozinha. Aliás, eu nunca viajei sozinha, sempre viajo com pessoas que são presentes na minha vida e com quem eu posso contar. A única vez que viajei sozinha foi no ano passado pra Brasília, mas foi um bate e volta e em território nacional né. De qualquer forma, tá decidido, mesmo que eu ganhe uma viagem, com tudo pago como foi essa, se não puder ir alguém comigo, não vou não.
Bom, o dia foi lindo, acabou meio tenso, mas deu pra ter uma ideia do nosso segundo dia né?
No próximo post, nossa visita à Associação dinamarquesa de EM.
Até mais!
Bjs

Um comentário:

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