domingo, 18 de dezembro de 2016

Carta ao meu Francisco, ou, um relato detalhado do parto

Era o dia 02 de dezembro de 2016. Acordei como em qualquer outro dia, tomei meu café da manhã, molhei as plantinhas do jardim e sentei para descansar um pouco. Subi na casa da vovó para amarrar o anjinho do dia no quadro de natal e, quando olhei para aquele calendário natalino pensei: acho que ele vai ser do dia 03.
Quando desci para fazer o almoço, senti uma contração um pouco diferente. Aí pensei: vai ver entro em trabalho de parto hoje e ele nasce de madrugada.
Foi quase isso.
Depois do almoço, as contrações tomaram ritmo e vinham de 10 em 10 minutos. Liguei pra médica obstetra e ela disse: quando tiver 2 a cada 10 minutos me liga. Ontem na consulta eu mexi em você, pode ser isso também. Já fazia 38 semanas e 6 dias que você estava na barriga da mamãe,então, ainda tinha tempo pra você vir. Mas a mamãe sabe das coisas. Eu sabia que você estava chegando. Falei pro papai tomar um banho e descansar, porque talvez precisássemos de muitas horas no hospital pra você nascer.
Subi pra casa da vovó e tomei um banho gostoso, conversando com você. Cantamos nossas musiquinhas. Alisei a barriga com carinho, porque sabia que no dia seguinte ela não estaria mais ali. Quer dizer, eu sabia que o maior amor da minha vida estaria do lado de fora e não mais ali dentro, mexendo e interagindo comigo daquela forma especial que só nós dois sabemos.
Depois do banho, as contrações vinham de 5 em 5 ou de 7 em 7 minutos. E começou a doer. A primeira que doeu mesmo, a mamãe achou que era um louca vontade de fazer xixi, mas não conseguia me levantar. Foi aí que ligamos novamente pra médica, que mandou a mamãe ir pro hospital.
Ligamos pro titio Caco, que veio buscar a mamãe, o papai e tuas duas vovós. A mamãe estava muito tranquila. Com a tranquilidade de quem sabe que tudo ia dar certo, que não precisava me preocupar com nada. Acho que no carro, meu filho, a pessoa mais tranquila era a mamãe.
Quando chegamos no hospital, a mamãe nem precisou dizer pro moço da recepção que ia pra emergência obstétrica. Uma contração forte veio bem na hora. Mamãe foi caminhando, porque era mais confortável ficar em pé, com o corpo levemente inclinado pra frente, do que sentada.
A mamãe subiu pro atendimento com a vovó Sônia, enquanto a vovó Leda ajudava o papai, montando a cadeira dele pra que ele pudesse ficar com a gente depois.
Na sala de espera pro atendimento, tinha mais duas gravidinhas, prestes a conhecer seus filhotes também. Elas perguntaram que horas você vinhas, mas a mamãe não sabia, porque ia deixar você vir a hora que quisesse. Elas acharam estranho a mamãe não marcar hora pra sua vinda. Mas era bem assim que a mamãe queria.
Antes de entrar pro atendimento, mamãe criou um grupo no whatsapp pra avisar a família e os amigos mais próximos que você estava chegando e estávamos na maternidade do hospital. Muitas pessoas te amam meu filho, desde a barriga da mamãe, e estavam ansiosos por esse momento também.
Mamãe entrou sozinha pro atendimento. A enfermeira viu que tava tudo bem com a mamãe e as 17:10h ligou um aparelho pra ouvir os batimentos do teu coraçãozinho e contar o número e intensidade das contrações da mamãe. Eu fiquei ali, deitada de lado, olhando pro monitor do aparelho e ouvindo o teu coraçãozinho por 30 minutos. Quando vinha a contração, teu coraçãozinho acelerava um pouco e a gente ficou conversando sobre como seria o momento da tua chegada.
A médica da mamãe ainda não estava lá, então, a Dra. Laura atendeu a mamãe e viu que tinha 4cm de dilatação. Pra você nascer ia precisar de 10. Então ela calculou e, como você é o primeiro filho da mamãe, podia demorar um tanto de tempo, e disse: acho que até a meia noite o Francisco tá aqui nos seus braços.
As moças (enfermeiras e técnicas) que atenderam a mamãe naquela primeira sala foram muito queridas com a gente. Deixaram a mamãe ficar sentada num bola de exercícios, embaixo do chuveiro. Ajudava bastante pra segurar a dor de cada contração. Foi quando a mamãe tava no chuveiro que o papai chegou pra nos acompanhar. Nesse momento a mamãe ainda conseguia conversar no intervalo das contrações.
Saindo do chuveiro, levaram a mamãe pra sala pré-parto. Um outro quarto. Lá colocaram um soro no braço da mamãe e a dra. Aline, médica da mamãe,examinou pra ver quanto tempo, maius ou menos íamos esperar. Já estávamos com 7cm. Em uma hora aumentamos 3cm de dilatação. Enquanto a médica examinava a mamãe, a bolsa de água em que você ficava se rompeu e saiu uma aguaceiro na cama. As moças da maternidade limparam a mamãe, trocaram o lençol e eu fiquei sentada na bola, me apoiando na cama. As vezes doía e parecia que eu tinha vontade de ir no banheiro. Mas eu sabia que era meu corpo fazendo força pra você vir.
As dores foram piorando. Ficando mais intensas e mais próximas. Antes demorara 10, depois 5, agora já estava de 2 em 2 minutos e a mamãe mal conseguia se recuperar da dor anterior quando vinha a próxima. A mamãe suava muito e tremia. Resolvi deitar na cama, apesar de doer mais deitada. Estava com medo de desmaiar, cair da bola.
Uma enfermeira perguntou quanto era o nível de dor naquela hora, de 0 a 10. A mamãe calculou em 8. Depois de tudo, ela disse que naquela hora já devia ser 12...
A anestesista não tinha chegado ainda. A gente calculava que você ia demorar mais pra nascer, porque você é o primeiro bebê da mamãe. Mas, novamente, em menos de uma hora, aumentamos mais 3cm de dilatação e você precisava vir. Conseguimos uma pediatra de plantão pra ajudar a mamãe a te receber. E, quando já tava praticamente na hora de levar a mamãe pra sala de parto, a "anja anestesista" chegou. Eu falei pra dra. Aline que precisava fazer força, que meu corpo não aguentava mais não fazer força. E quando fizemos força ali na sala pré-parto, você já estava dando sinais.
Correndo a anestesista atendeu a mamãe, que já não conseguia sentar mais sozinha, então um médico e uma enfermeira seguraram a mamãe sentada. A Roberta (a mamãe conseguiu ler o crachá dela na hora) foi quem colocou a cabeça da mamãe no ombro e lembrava à mamãe que precisava respirar. Ela foi um anjinho também, assim como a anestesista, que deu uma injeçãozinha nas costas da mamãe que aliviou a dor.
Nessa hora levaram a mamãe pra sala de parto. A mamãe tava com tanto calor e suando tanto que já tinha tirado toda a roupa. Na sala de parto trocaram a mamãe de cama, pra uma onde eu pudesse colocar as pernas pra cima e fazer a força pra você sair. O papai foi junto, e colocaram um roupa especial nele, pra ficar ali com a gente.
Como a mamãe já não sentia mais a dor, a médica disse: você está tendo uma contração, faz força! Eu fiz toda a força que conseguia fazer. Já emocionada porque logo iria ver você. Depois dessa ela disse: mais uma e ele vem. E foi assim mesmo. Na segunda contração, ali na sala de parto, você veio naturalmente.
Não abriu um berreiro, nem chorou. Você saiu da minha barriga para o meu peito, abriu os olhinhos quando eu disse "oi meu amor",  e fez um resmungo, como quem dissesse, tô aqui mãe!
Foi lindo! A mamãe não tinha muitas expectativas sobre o parto. Mas posso dizer que foi melhor do que qualquer coisa que eu imaginei. Do que qualquer coisa que eu já vivi.
Você ficou ali uns minutos, antes de cortarem o cordão umbilical e levarem você pra pesar. O papai tava o tempo todo com a gente. E chorou quando viu você no colo da mamãe.
Sabe, antes de ter você, eu via cenas de parto e não entendia como as mulheres não tinham medo de derrubar o bebê, tão frágil, do colo, logo após o parto. Hoje eu sei que a gente liga um chip quando colocam o filho no nosso colo e, do nada, a gente sabe exatamente como pegar nossa cria.
Antes de levarem você pra pesagem, pro seu primeiro banho, as vacinas etc. O papai voltou na sala de parto contigo no colo. Foi a cena mais linda da vida da mamãe. Teu papai, que achava que não ia conseguir te pegar, foi o primeiro a te levar dum lado pro outro no hospital. A mamãe foi levada para um quarto, esperar você chegar e
tudo foi feito sob os olhares atentos do papai, que estava ao teu lado, e das vovós e da dinda Raquel, que viram tudo através do vidro, fotografaram e filmaram e iam enviando pra mamãe poder ver também.
Eu ainda passei pelo mesmo vidro e pude olhar elas ali, tão emocionadas quanto eu.
Te esperei no quarto. Quando você chegou, até jantar a mamãe já tinha jantado. O papai ficou ali por mais um tempo.

A vovó Sônia dormiu com a gente na primeira noite. Ou melhor, ficou acordada comigo, admirando você o tempo todo.
O parto foi lindo, foi perfeito e a mamãe saiu pronta pra outro. Sem nenhum corte, sem nenhuma dor depois. Só carregando o maior amor do mundo nos braços.
Assim foi o nosso dia 02 de dezembro. O primeiro dia seu aqui na terra. O primeiro dia do resto das nossas vidas, com muita alegria e luz, meu Francisco.
Nós viemos pra casa no dia 04. E a mamãe tem que agradecer muito a toda equipe que nos atendeu. Além da dra. Aline, todas as enfermeiras e técnicas que atenderam a gente foram muito carinhosas. Todas mesmo. Queria ter dado um abraço bem apertado em cada uma das pessoas que passaram por nós naqueles dias e marcaram nossas vidas pra sempre.
A gente teve muita sorte (ou merecimento) de ter anjinhos com a gente nesses momentos. E nisso incluo a tia Cintia e a pequena Helena, que havia nascido um dia antes, nossas companheiras de quarto e que queremos acompanhar pela vida.
Jamais vamos esquecer o carinho e dedicação das profissionais da maternidade do Hospital Moinhos de Vento. Obrigada meninas!
E obrigada também a todos e todas que foram nos visitar ainda no hospital (tio Neo, tia Lígia, Luana, Everton, dinda Raquel, tio Eduardo, tia Tata, biso e bisa, vô Roni, tia Neyra, tia Lúcia, vovós Marília e Helena, além das vós oficiais que estão sempre com a gente, Sônia e Lêda. Em especial o Dinho Gu, que veio de São Paulo pra te conhecer. O papai só vinha pra casa pra dormir e estava aqui pra nos receber quando chegamos.
Assim foi o nosso dia 02 de dezembro. O primeiro dia seu aqui na terra. O primeiro dia do resto das nossas vidas, com muita alegria e luz, meu Francisco.
Com amor,
Mamãe.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Carta ao marido da jovem grávida

Aí o maridão lê seu texto e pede um espaço no blog pra fazer você chorar escrever.
Curtam, como eu curti, o texto do Jota aos papais grávidos:

Esse é um daqueles textos não programados; que vem de cascata (quem escreve sabe o que quero dizer). Entram no meio do seu dia já programado, bagunçando e deixando para depois tudo aquilo que você tinha elegido como prioridade. Escrever ganha ares de necessidade e precisa ser feito! É quase uma tromba d’água que cai de repente molhando de surpresa a roupa no varal. Algo que já existe completo no “mundo das ideias” e “só” precisa ser escrito. Depois de compartilhar a emoção da Bruna escrevendo sua carta à jovem grávida e lendo as coisas que diziam diretamente sobre mim, fiquei com vontade de escrever também ao marido da jovem grávida. Não tinha tanta noção do quanto algumas coisas que fazia meio que inconscientemente eram importantes para ela.

Carta ao marido da jovem grávida
Recentemente, quando uma amiga me confessou que estava grávida eu lhe disse: Parabéns! Antigamente, quando alguém me contava sobre uma gravidez, eu não sabia se felicitava ou consolava, mas hoje eu só parabenizo. Ser pai e acompanhar de perto uma gravidez é uma experiência fantástica. Então, se você é uma dessas pessoas: parabéns!
A dúvida tinha um motivo. Na adolescência, morria de medo de ser pai. Uma gravidez podia arruinar os planos que havia traçado. Não era um medo vivido individualmente, só meu. Era igualmente compartilhado por minhas namoradas. Era só a menstruação atrasar alguns dias para bater um temor na gente. Confesso que sentia um certo alívio mensal quando o ciclo se renovava e pensava: ufa! Não foi dessa vez. E lhes digo: é muito mais agradável fazer um teste de farmácia esperando que ele dê positivo do que negativo. Até sua namorada aparecer com a confirmação da “não-gravidez” na mão, parecem minutos intermináveis.
No entanto, o pavor da adolescência deu espaço às expectativas. Logo que começamos a tentar engravidar, vivíamos com alegria cada dia a mais sem sinal de menstruação. E quando a Bruna falava alguma coisa que não entendia direito ou anunciava que queria conversar comigo, já imaginava, ela ia me contar que não estávamos grávidos. (digressão surreal: ela me ligou agora para falar de uma Eco que tinha feito e só fiquei mais tranquilo quando ela falou que estava tudo bem. Ainda tenho esse pavor. Acho que ele vai me acompanhar pelo resto da minha vida como pai).
Felizmente, engravidamos logo no primeiro mês de tentativa. Imagino a frustração de um casal quando não consegue engravidar logo. Mas desde o começo colocamos que queríamos ser pai e mãe, independente da gravidez. A Bruna teve que parar a medicação e tínhamos um prazo médico para as nossas tentativas. Então a adoção era uma possibilidade bem presente, caso não conseguíssemos. Quem sabe um dia ainda seja realidade.
O Francisco foi cuidadosamente planejado, mas sabemos que nem sempre é assim que a banda toca. Uma gravidez inesperada pode atrapalhar a conquista de um objetivo idealizado. Mas vou lhes dizer: uma doença também! E tâmo aí! Então esse tal ideal só serve para continuarmos caminhando. A realidade é bem mais complexa e urgente. E você tem que escolher entre a realidade e o ideal.
Se escolher ser pai, talvez você possa passar a vida inteira se lamentando por um ideal não realizado. Ou pode aproveitar a experiência que a vida está lhe oferecendo e curtir quem realmente importa nesse momento: sua esposa e o filho que ela carrega no ventre. Certamente, tenho muita sorte de ter a Bruna como acompanhante dessa jornada. Uma companheira que sempre me fez colocar os pés no presente. Mesmo com todos os medos e inseguranças que se apresentam no processo da paternidade (e ainda mais da paternidade com uma deficiência) e sempre me lembrou e não deixava eu esquecer: “Ooooh, eu preciso de você aqui e agora”.
De nada adiantava eu ficar imaginando todas as dificuldades (o ideal nem sempre é o sonho do sucesso, às vezes está travestido de medo e insegurança. Pode ser pesadelo. Mas está sempre no futuro) que teria e esquecer-se de quem realmente precisava de você: a mãe de seu/sua filho ou filha ao seu lado. E essa é a primeira sugestão que dou aos maridos dessa jovem mulher grávida: esqueça do futuro, dos medos, dos objetivos. Sua vida é outra agora, tenha medo, mas vá com medo mesmo. Construa novos objetivos.
A gravidez pode ser esperada ou indesejada, mas, na verdade, você é mero coadjuvante nesse processo. Uma vez eu comparei a gravidez a um sonho: você pode estar presente na imaginação da outra pessoa, no entanto você terá acesso à narrativa do sonho unicamente se alguém te contar o que sonhou. A mulher grávida é como o sonhador. Você só saberá quando o nenê chutou, mexeu ou acordou se ela te contar. O sonho é dela e você alguém que se beneficia das palavras do sonhador.
E nesse sentido, cabe a você se interessar pela história que ela tem pra contar. E aí está a segunda dica: se interesse pela história. A Bruna nem sabe, mas adoro quando ela interrompe uma conversa que estamos tendo para dizer, olhando para a barriga: bom dia, filho! Sentir o primeiro movimento do dia deve ser algo mágico. Mas é uma coisa que não tenho acesso pela experiência, apenas pela narração. Só posso sentir a alegria que me toma quando vivencio essa cena; ver o carinho que a Bruna dirige à barriga etc. Isso eu posso sentir, e gosto.
Assim, como espectadores da natureza, fico meio sem entender àqueles que decidem não participar da narrativa; aqueles que abandonam, não se interessam e não vivem essa experiência. Mesmo que não programada, uma gravidez não tem nada a ver com você. Talvez seja fácil eu falar agora... provavelmente, não teria o mesmo pensamento na adolescência, enquanto a vida parecia um quadro a se pintar. No entanto, não é um ideal que constrói a nossa vida, mas o diário. E assim como é possível viver e batalhar pelos seus sonhos com uma doença, também é possível com uma gravidez não programada. No fundo deve escolher entre o ideal individual que se apresenta enquanto possibilidade ou um novo ideal construído coletivamente com sua família. Uma gravidez não esperada não significa abandonar seus sonhos, mas ressignificá-los. Sei lá, talvez não seja uma tarefa fácil, mas depois de tantos sonhos que adaptei às atuais condições por causa da doença, já estou craque e talvez você consiga se treinar um pouco. Essa é a terceira dica: Não abandone seus sonhos! Construa outros com sua esposa, namorada, ficante e com seu filho ou sua filha.
Outra coisa, a quarta dica: não se esqueça que a jovem grávida é, acima de tudo, uma mulher, com desejos, carências, manias, objetivos etc. – talvez mais exaltados no período, mas a mesma mulher de antes da gestação. Então me surpreende relatos de maridos que perderam o desejo na mulher ou que se afastam por alguma coisa. Não sei, talvez pra mim seja fácil, porque eu acho linda a Bruna grávida. Acho lindo aquela barriga nela. Pra mim, ela é a mulher mais linda do mundo e quero sempre estar ao lado dela, seja em carícias mais picantes, seja em “colinhos”. Não é uma dica do tipo “levante a autoestima de sua esposa”... não! Eu acho bonito mesmo! Mas entendo que cada caso é um caso, nem sempre a pessoa está feliz com seu corpo. Nesse caso, talvez você deva se esforçar para levantar a autoestima da jovem grávida. Não por pena, por amor!

Aqui estão só algumas dicas, mas não são regras. Melhor seria vê-las como sugestões. Certamente, a experiência pessoal e a dinâmica do casal podem avaliar melhor a utilidade dessas “dicas” e aperfeiçoar seus preceitos. São sugestões, não conclusões. Não são dicas do tipo manual (faça você mesmo ou faça assim, não assado). A gravidez e a paternidade são experiências incríveis e precisam mais de feeling do que receitas de bolo prontas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Carta à jovem grávida

Oi queridos e queridas, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Estamos com 38 semanas de gravidez (lembrando a quem não entende de gravidez em semanas, que o total de uma gravidez é 40). Estamos ansiosos pela chegada do nosso pequeno e, ontem, recebemos um email de uma querida amiga que está nos primeiros meses de gravidez. Ao pensar numa resposta pra ela, acabei pensando em algo que eu gostaria de dizer a todas as mulheres que estão no início dessa caminhada linda, intensa e emocionante que é estar grávida. Então, peço licença ao assunto esclerose para falar de gestação.


Carta à jovem grávida
Olá amiga que está grávida. Se você não me conhece e está lendo essa carta, ainda assim te chamarei de amiga, afinal, compartilhamos de uma experiência única e inexplicável de nossas vidas: a gravidez.
Não importa a sua idade, jovem grávida, és jovem porque estás no início de um caminho que eu me encontro no final.
Eu sei que para cada uma de nós, essa experiência é diferente. Algumas, como eu, planejaram esse momento. Outras foram pegas de surpresa. Algumas tem um companheiro do lado, outras não. Algumas ficam felizes com essa vivência, com seu corpo, outras nem tanto. Por isso, não leve essas palavras como algo que você deve, obrigatoriamente viver nos próximos meses. Porque a sua gravidez e a minha são diferentes. No entanto, gostaria de te contar um pouco como foi para mim.
Eu conto porque nesses meses, às vezes eu sentia falta de alguém que vivia a mesma coisa que eu pra compartilhar. E a cada texto de amiga grávida que falava da emoção que estava vivendo, e eu me encontrava naquelas palavras, me sentia fazendo parte não só de um grupo - o de mulheres mães - mas me sentia parte de algo maior, sem explicação.
A verdade, minha amiga, é que nada... nadica de nada nessa vida nos prepara para a gravidez. Por mais que tenhamos vivido momentos intensos, emocionantes, alegres ou tristes em nossas vidas, absolutamente nada nos prepara para o momento em que nosso corpo gera um ser dentro da gente.
No início, quando ainda não sentimos ele mexer, ficamos olhando para o próprio ventre e pensando em como pode ter um serzinho ali dentro. E naquela ecografia que a gente vê que o bichinho de apenas 7cm já tem mãozinha, pezinho e rostinho, ficamos sem saber explicar como isso acontece.
Por mais que nos expliquem biologicamente como acontece, a transformação da gente em mãe é algo que não se explica.
Aí a gente fica querendo ver barrigão e sentir o bebê mexer. E começa a ler sites sobre o assunto, conversar com outras mulheres sobre isso e fica na expectativa. Eu jurava, com 4 meses, que aquilo que eu tinha era barriga de grávida. Hoje, olhando as fotos, eu rio, porque só fui ter mesmo barrigão a partir do sétimo mês. Então, não se culpe por andar meio torta no início, pra forçar uma barriga que ainda não existe. Ou, se você já tem o barrigão desde o início. Não é a barriga que faz a gente mais ou menos mãe. Nem os peitos, que, você vai ver, vão crescer, ficar estranhos e ligeiramente - ou muito - diferentes um do outro.
Mas nada, minha amiga, nos prepara para aquele momento em que você se olha nua no espelho e percebe que seu corpo são dois. Que sua alma são duas. E que você nunca se achou tão linda na vida quanto agora, carregando esse barrigão lindo. E mesmo você não conseguindo enxergar mais suas partes íntimas no banho, você ama esse barrigão mais que tudo e começa a sentir falta dele nas últimas semanas de gravidez.
No início a gente fica pensando, a cada movimento ou barulho estranho da nossa barriga, se aquilo é o bebê se mexendo (ou gases). Mas ele ainda é pequeno. Se mexe o tempo todo e a gente não sente. E quando perguntamos pra alguém como é e ouvimos aquele fatídico "você vai saber quando for", ficamos até brabas com isso. Mas, minha amiga, vou ser a mulher chata que diz: você vai saber quando for! E quando for, você vai ver que nada na vida te preparou pra esse momento. Nenhuma alegria vivida antes se compara a um filho brincando no seu ventre.
Antes disso acontecer, eu já conversava e cantava pro Francisco. Antes mesmo de saber que ele seria Francisco. Mas quando eles mexem, há uma interação entre mãe e filho que só nós sabemos. Só nós sabemos o quanto ele mexe de um lado pro outro com a conversa do papai e o quanto ele pula quando é a titia que coloca a mão na barriga. Só a gente sabe que ele mexe diferente quando encostamos na barriga algo frio ou quente. Só nós sabemos!
Pois é, amiga... entramos para o time das mães, esse time que tem coisas que só quem é mãe que sabe. E aí entendemos aqueles discursos de "quando você for mãe você vai entender". Porque é verdade. Só sendo mãe pra saber.
Os pais que me perdoem, mas é bom demais ficar grávida. Claro que existem coisas que só os pais sabem. E claro que não é preciso passar por uma gestação física para se tornar mãe e pai. Mas sim, é uma emoção diferente de tudo que alguém pode viver.
Eu cuido quando eu digo que tenho um dózinho de quem não engravida. Porque não é uma pena das mulheres que não podem engravidar, nem um julgamento sobre as que não querem. É um dózinho mesmo porque é algo tão gostoso, tão maravilhoso, tão tão tão... tão sem palavras, que eu gostaria que todas as pessoas no universo, homens e mulheres, pudessem vivenciar. Ainda que não queiram ser mães ou pais. Não sei se me fiz entender sem ofender ninguém... mas, enfim, eu queria poder compartilhar essa felicidade enorme que toma todo meu corpo com todas as pessoas...
Também, no início da gravidez, a gente fica com um pouco de medo, afinal, o bebê está ali dentro e deve estar crescendo saudável. Mas como saber? Como ter certeza? Como saber se o coraçãozinho está batendo se não podemos escutar diariamente, nem tocá-lo? Mais uma vez, minha amiga: você vai saber quando algo não estiver certo. E não hesite em ir no médico, mesmo que todo mundo diga que é bobagem, que é exagero de primeira gravidez ou que você tá fazendo fiasco. Porque, lembre-se, mãe sabe das coisas. E é incrível mesmo o quanto a gente sabe. Eu não achava que saberia, até que aconteceu: depois de um estresse emocional, comecei a sentir algo diferente no meu corpo. Fui na médica e descobri que meu colo do útero estava muito fino pra 30 semanas. E foi aí que fui pro repouso. Então, minha amiga, não se preocupe, você vai saber! Ou melhor, se preocupe, porque uma das coisas que acontece quando vamos nos tornando mãe é isso: ficamos mais preocupadas e atentas a tudo.
Aliás, sabe aquelas convicções que você tinha e defendia, como o feminismo, a igualdade racial, de gênero, o fim da fome no mundo? Então, isso tudo vai aflorar e você vai defender ainda mais. Afinal, o mundo não tem que ser melhor mais pra você e pra quem já está aqui, mas pro seu filho que está chegando. E você não quer que ele cresça ouvindo discursos de ódio, nem que ele naturalize o racismo, nem que ele cresça achando que pode tudo porque é homem ou que não pode nada porque é mulher. Quando engravidamos, damos uma carta de esperança ao universo e temos que fazer com que essa esperança continue com a gente e que perpetue com nossos filhos e nossas filhas.
E a barriga vai crescendo e você vai se transformando. Quando descobre que nada no mundo, nem as mexidas constantes do seu bebê na barriga, te prepararam para o momento em que começa a sair um líquido do seu peito e você se vê capaz de alimentar a sua cria. Nada no mundo te prepara pra isso. Assim como, eu sei, que isso não me preparou para o momento em que eu terei meu filho mamando no meu peito.
Outra coisa também é certa: você vai chorar! Vai chorar bastante. E isso não é ruim. É apenas a emoção que não cabe em você saindo pelos olhos. Você vai chorar quando ver aquele borrão na primeira ecografia e ouvir, pela primeira vez o seu segundo coração bater. Você vai chorar quando ler aquelas mensagens de maternidade que os amigos vão postar na sua timeline nas redes sociais. Você vai chorar quando cantar pro seu bebê e ele mexer suavemente ao som da sua voz. Você vai chorar quando tentar falar publicamente sobre a emoção de estar grávida. Você vai chorar quando for tentar ser o porto seguro do pai do seu filho, que está passando por transformações diferentes das suas, mas ainda assim, transformações. Você vai chorar quando ganhar um mimo cheio de carinho pro quartinho do seu bebê. E vai chorar quando pegar as roupinhas dele na gaveta da cômoda e ver o quanto ele vai ser pequenino ao nascer. E vai chorar quando ver crianças brincando no parquinho. E vai chorar quando parecer que você está vivendo tudo isso sozinha, porque só você na casa está grávida e parece que ninguém entende o que está acontecendo com você. E também vai chorar quando receber um email de uma amiga dizendo o quanto está torcendo por você e que já ama seu filho também. E vai chorar escrevendo um texto como esse... sem dúvida, você vai chorar!
Dizem que, quando você engravida, nasce também uma plantação de palpiteiros, e que essa plantação floresce ainda mais depois que ele nasce. E é verdade. Todo mundo tem um palpite sobre a sua gravidez. Mas, sabe, minha amiga, não leve isso como imposição dos outros. São poucas as pessoas que falam porque acham que você não vai saber o quê ou como fazer. A maioria delas fala como forma de carinho, porque se preocupam com você e com seu filho. E, quer saber, quando você menos perceber, vai estar fazendo o mesmo com outras mães. Porque é isso que a gente faz: a gente pega a própria experiência e tenta passar adiante. Eu passei esses nove meses ouvindo mil palpites. Ouvi todos com carinho e guardei comigo aqueles que me parecem servir. Claro que, dependendo do dia, a gente tem vontade de dizer chega! Mas aí a gente lembra o quanto é bom ter pessoas junto com a gente, mesmo que seja pra dar palpite furado, ou dizer "no meu tempo..."
Não sei você amiga, mas eu me sentia feliz e lisonjeada com cada pessoa que queria tocar na barriga e fazer um carinho. É um carinho na mãe e no filho. Claro que eu não tive a invasão de alguém desconhecido querer fazer isso. Mas é muito bom ter esse carinho!
E o carinho mais gostoso, para mim, foi o do pai do meu filho. Que me olhou nesses meses todos como se eu fosse a mulher mais desejável da terra. Que cuidou de mim e do meu corpo muito mais do que antes. Que soube me tocar, me acariciar e me admirar nessa transformação louca. Que soube secar todas as minhas lágrimas, ouvir todos os meus lamentos, medos, anseios e minhas palavras desconexas para explicar o que eu estava vivendo internamente. Que entendeu, nesse tempo todo, que além de mãe, eu continuava sendo sua mulher, sua namorada e que eu precisava de colo, muito colo o tempo todo. Nada vai te preparar para acordar no meio da madrugada e ver que seu parceiro está fazendo carinho na sua barriga, mesmo estando dormindo num sono pesado. Nada vai te preparar para ver seu marido, companheiro, namorado, se tornar o pai do seu filho.
Bom, e se você tem bichinho de estimação, como gato ou cachorro - no meu caso eu tenho dois gatos - nada vai te preparar para aquele momento em que você percebe que seu bichinho sabe que tem um filhote dentro de você. Nada vai te preparar para o felino ronronando do lado de fora da barriga e o bebê "respondendo" do lado de dentro. Nada vai te preparar para aquela madrugada em que você acorda com uma contração e, quando olha para o chão, ao lado da cama, estão os dois gatos olhando pra você, como se tivessem previsto que você precisava de alguém.
Então você começa a ter contrações no final da gravidez. E lê sobre as tais contrações de treinamento e vai batendo aquela ansiedade pra saber quando vai ser o parto, como vai ser o trabalho de parto, que dor você vai sentir, e se aquilo ali é de treinamento ou se já é de verdade. E, mais uma vez, as pessoas te dizem: calma, na hora você vai saber.
Acho que elas devem ter razão. E, por isso, eu senti mais ansiedade há duas semanas, quando eu tive as primeiras contrações fortes de treinamento do que agora, mais perto do parto. Afinal, eu já entendi que, quando eu engravidei, instalaram uma espécie de chip na minha cabeça - ou seria no meu coração? - que me faz saber de coisas que eu nem imaginava que saberia.
Minha amiga, eu te contei um pouco - bem pouco mesmo - sobre a minha gravidez. Não que eu ache que isso vai te preparar pra alguma coisa. Não se engane, nada vai te preparar pra viver esses momentos. E você vai vivê-los como tiver, puder e souber viver. E isso vai te transformar em outra pessoa. E você nem vai reclamar disso.
Eu não acho que tudo que já li, ouvi e vi sobre o parto tenha me preparado para o momento que estou prestes a viver. Por mais que as pessoas me digam que ver o bebê, tocar, cheirar ele pela primeira vez é algo mágico, só quando eu passar eu vou saber. E é por isso que eu não tenho medo de pegar no colo, dar de mamar, dar banho etc... eu vou saber! E vou saber porque vou aprender com quem já sabe, mas, principalmente, com esse menino com quem me relaciono desde antes de saber que estava grávida, que me ensinou a ser mãe dele antes mesmo de nascer. Porque, minha amiga, esse relacionamento que construímos com nossos rebentos, nem a gente sabe explicar.
Pode ser que a sua gravidez seja completamente diferente da minha. Pode ser que esse relacionamento só comece quando você ver seu bebê. Pode ser que você deteste seu barrigão e não consiga se relacionar com esse novo corpo. Pode ser que o relacionamento com seu parceiro piore e não melhore, como foi o meu. Pode ser que você se sinta triste e não radiante.  E isso não vai te fazer mais ou menos mãe. Ou uma mãe melhor ou pior. E, tudo bem... porque cada mãe tem um modo diferente de viver a maternidade.
Fica tranquila, você não vai estar
preparada, mas vai saber!
Beijos

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Por que sou CONTRA a PEC 241 / PEC 55

O assunto de hoje é sério!
Sim, eu estou super envolvida com assuntos de bebê, parto e mamá. Mas eu também vivo no mundo, continuo trabalhando, lendo, estudando e não consigo não escrever sobre esse tema que tem atormentado a vida de todo brasileiro consciente: a PEC 241, que agora, no Senado, é a PEC 55.
Me atormenta porque eu, Bruna, fiz mestrado e doutorado com bolsa da CAPES, só não fui pro exterior fazer parte do doutorado por escolha minha, mas existia bolsa pra eu ir, caso eu quisesse (e sim, é importante na formação). Me atormenta porque eu tomo uma medicação de alto custo que recebo pelo SUS. Porque meu marido faz reabilitação (fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional) pelo SUS, porque as duas cadeiras de roda que ele usa e a cadeira de banho (que foi encomendada agora), também vieram pelo SUS. Porque metade das medicações que ele toma, tanto de médio quanto de alto custo (e são muitas), recebemos pelo SUS. Me atormenta, porque meus avós, que já tem mais de 80 anos de idade, tem seu atendimento de saúde no posto do SUS, e é um atendimento exemplar. O marcapasso que a vovó usa é de última geração e ótima qualidade. Quando meu vô teve meningite e precisou ficar 2 meses no hospital, foi pelo SUS e, vou ser sincera, a qualidade das instalações eram melhores do que muito hospital que eu fiquei com plano de saúde.
Me atormenta porque eu quero que as próximas gerações tenham essa oportunidade que eu e minha família tivemos e continuamos tendo.
Mas se essa PEC passar, meus caros amigos e minhas caras amigas, temo que nada disso mais vai existir.
Já que aqui falamos de EM e saúde, vamos nos ater mais às questões de saúde então.
Eu sei que o SUS é melhor no papel que na realidade. Ainda assim, ele é bom. E eu defendo o SUS porque acho que ele tem que melhorar sim, e tem que continuar existindo. Eu sei que não é satisfatório ainda hoje. Mas se hoje ele funciona mais ou menos, com a PEC, esqueçam até o mais ou menos.
Sabe aquelas novas medicações que a gente fica lutando pra que entre pelo SUS, aqueles novos orais, aquele que serve pra EMPP? Esquece. Com esse novo orçamento pra saúde, não vão entrar, porque pro governo isso é gasto, não investimento. Ah, e se hoje já tá difícil de conseguir o auxílio doença, vai ficar cada vez mais difícil. E aí, danem-se as pessoas com EM que não vão ter nem atendimento decente, nem medicamento de última geração, nem condições de trabalhar, nem auxílio doença. Vamos viver de... bom, sei lá do que...

Mas Bruna, o que é essa tal de PEC 241/55?
Vamos lá! O governo de Michel Temer tem promovido um ataque sistemático aos direitos sociais previstos na Constituição de 1988. A apresentação da PEC 241/2016, que estabelece um novo regime fiscal para gastos com saúde e educação é mais um exemplo disso. No texto apresentado, valores mínimos dos gastos com saúde e educação da União passarão a ser corrigidos pela inflação do ano anterior, e não mais pela receita. A PEC 241 terá validade de 20 anos, com possibilidade de revisão em 10 anos. Um dos maiores retrocessos da proposta é que os investimentos não mais estarão atrelados ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, como ocorre hoje.
É como se uma família que quisesse economizar, pegasse o mês mais apertado e difícil do ano e tivesse as condições econômicas daquele mês durante 20 anos! 

Já pensou????
Aqui tem um vídeo, bem em cima do muro, que explica o que é a PEC:


Mas como eu não sou em cima do muro, como eu tenho um posicionamento e ele é sim contra e crítico a PEC, prefiro esse: 


E ter um posicionamento contra um desatino desse governo não é ser "petralha" ou qualquer "xingamento" que queiram dar. Porque, honestamente, não importa se você votou na Dilma ou no Aécio, se você era a favor ou contra o Impeachment da presidenta, se você é dos "vândalos" ou dos que batem panela, se você é mortadela ou coxinha: se você é cidadão brasileiro, você vai ser afetado, negativamente, com a aprovação dessa PEC do fim do mundo!

Mas no que isso vai afetar a minha vida?

Em tudo! No momento em que o investimento público em saúde e educação é cortado, tanto a educação pública quanto a saúde correm o risco de morrer. Olhem só o que diz o Ronald Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde:

 “Ao fim e ao cabo, aprovando essa PEC, ela vai significar morte; por isso nós devemos rebatizá-la como a PEC da morte, porque ela vai causar a morte do povo brasileiro. Não podemos admitir que o principal contrato do povo brasileiro, que é a Constituição, seja rasgado. Por isso é fundamental que todas as organizações, de forma mais ampla possível, mobilizem o povo brasileiro no sentido de dizer não à PEC da morte”.

A PEC 241 estabelece um teto para as despesas primárias (que atendem as necessidades da população) e não inclui as despesas financeiras, como os juros, por exemplo, que continuarão sem nenhum limite.

Hoje já não temos investimento suficiente em saúde e educação, e ainda teremos, caso aprovada, esses investimentos congelados. Isso significa não apenas menos SAMU, menos tecnologias de saúde aprovadas para o SUS, mas também menos pesquisas em saúde, menos profissionais sendo formados e, com isso, uma precarização de todo um sistema de atendimento.

Entenda melhor o impacto da PEC 241 na educação e porque eu sou a favor das ocupações:


#OcupaTudo
Meu dó é estar de repouso e não poder ajudar no #OcupaUFRGS #OcupaFaced. Porque meus amigos e colegas que estão lá ocupando e todos os jovens que ocupam hoje as escolas não são vândalos que não querem estudar. Pelo contrário, são pessoas inteligentíssimas, que querem garantir a continuação de seus estudos e também o futuro da educação. Meus queridos e minhas queridas, continuem firme na ocupação. Enquanto eu fico firme no repouso, garantindo que Francisco venha no tempo certo, vocês ajudam a garantir que ele possa estudar com qualidade!!!

PEC 241 e Saúde

Se aprovada a PEC 241, a partir de 2017 os recursos destinados à saúde terão como base de cálculo 15% da Receita Corrente Líquida (RCL), estimada em R$ 758 bilhões no Projeto de Lei Orçamentária. Isso representará o valor de R$ 113,74 bilhões, que ficará congelado até 2036. A partir de 2018, a correção será somente pela variação anual da inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). As perdas deste valor congelado em 2018 até 2036 totalizam R$ 438 bilhões, de acordo com as projeções baseadas nos cálculos do Grupo Técnico Institucional de Discussão de Financiamento do SUS, que compõem o estudo apresentado pela COFIN.

“A PEC 241 é uma ameaça extremamente grave, principalmente para os estados e os municípios, porque ela congela os recursos da saúde até 2036. Ou seja, o orçamento da saúde ficaria nos atuais cento e oito bilhões de reais até 2036, sem que se leve em conta o envelhecimento da população e outros fatores importantes”, afirma Odorico Monteiro, presidente da Parlamentar em Defesa do SUS.

O Governo quer fazer você acreditar que a crise financeira do país é provocada pelos investimentos feitos em necessidades básicas da população e não nos gastos exorbitantes das altas camadas da sociedade.

A PEC 241, acabando com o investimento social matará o SUS e jogará, obrigatoriamente, a conta de saúde para cada pessoa individualmente. Se hoje temos acesso a medicamentos de alto custo e atendimento em centros de referência de EM pelo SUS, com a aprovação da PEC teremos que recorrer ao sistema privado. Se, com a existência, ainda que precária do SUS, não temos uma igualdade e equidade no campo da saúde, com a aprovação da PEC, cada vez mais, saúde e educação serão objetos de luxo destinados a uma camada muito pequena e privilegiada da população.

Eu acredito que não podemos aceitar uma coisa absurda dessas. Por isso escrevo minha indignação. Por isso peço que você também não permita a perda de nenhuma direito. Por isso deixo aqui o link da Consulta Pública do Senado e peço que votem contra a PEC 55:

Enviem emails para seus senadores dando sua opinião também.
Não adianta só reclamarmos que as coisas não acontecem, que a vida de quem tem EM é ruim, se a gente fica quieto quando querem tirar o pouco que temos pra proporcionar qualidade de vida à todo cidadão e cidadã! Pensem em vocês, nos seus filhos, nas próximas gerações. 

Até mais!
Bjs
#ForaTemer
#OcupaTudo
#CorteZero

(Em tempo: eu não sou do PT, sou de esquerda sim, mortadela, vândala, contra o impeachment e a favor das ocupações. Me julgem! Mas não esperem que eu vá discutir com ninguém aí nos comentários... e mantenham o decoro, por favor. Não precisamos concordar pra conviver, mas sim, é preciso ter respeito!) 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Francisco apressadinho...

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem... ansiedade à flor da pele. Essa semana Francisco resolveu que quer vir antes e me colocou de repouso pra vermos se seguramos esse menino mais umas semanas aqui dentro. Eu falo pra ele não ter pressa, que ele terá todo tempo do mundo pra se mexer bastante aqui fora... mas acho que ele tá ansioso pra ter essa mãe babona amassando ele até dizer chega!
Na minha cabeça, mil coisas se passam. Não consigo escrever muito porque o tempo que estou acordada fico meio zumbi. Não tenho conseguido dormir muito bem, porque dá azia, porque não tem posição que fique bom, porque quando tento dormir fico pensando em como vai ser... Resultado: não devo dormir 5h por dia, somando todos os cochilos.
Mas tem sido delicioso! heehhehehe
Enquanto Francisco não nasce, curtam os vídeos que eu e o Jota estamos fazendo com carinho, toda semana. Já são 27 vídeos gente!
Esse é o último:


Bjs

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Minha tese está disponível. Obrigada!


Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Estou em "semi repouso" porque Francisco parece estar com pressa. Estamos com 32 semanas (isso quer dizer no oitavo mês), e ele até poderia já nascer saudável, mas o ideal é completar a gestação (que seriam 40 semanas). Vou ficar bem quietinha aqui em casa pelo menos pra completar 36 semanas (início do nono mês). Viu só como eu sou legal traduzindo semanas em meses? hehehehehe
Bem, mas o assunto de hoje não é gravidez (pasmem!).
Hoje eu quero compartilhar com vocês meu outro "filho" nascido em 2016: minha tese.
Sim, agora ela já está disponível no site da biblioteca da UFRGS para todos poderem baixar e ler com calma. Foi um trabalho que me deu muito prazer em fazer. Me mudou internamente como ser humano, me trouxe um crescimento pessoal imenso, mudou a forma como eu vejo/escrevo meus blogs, assim como fazer o blog me faz ter um texto acadêmico diferente, talvez coloquial demais para o povo das ciências.
Sugiro a leitura dos agradecimentos e da introdução àqueles que não gostam muito de ler... mas eu gostei tanto dela que acho que vale a pena ler toda, viu? hehehehehe
Enfim, eu gostei muito do resultado. E, claro, ele não vai parar por aí, nessas 187 folhas... Fazer um trabalho desses me fez pensar em outras pesquisas envolvendo o tema da Educação para a doença, que eu acho que é o que eu faço aqui no blog. E podem esperar, vem mais coisa pela frente...
Hoje eu quero agradecer, mais uma vez as pessoas que fizeram parte de todo esse processo, incluindo minha orientadora Prof. Dra. Rosa Hessel Silveira, que topou fazer esse trabalho comigo e me orientou da melhor forma possível, meus professores, colegas, amigos, familiares, blogueiros, leitores do blog, pessoas que pararam para conversar comigo sobre o trabalho num cafézinho em algum congresso... enfim, todos que deixaram alguma marca nessa escrita.
Muito obrigada a todos vocês!
Para acessar a tese, basta clicar AQUI!

O nome da tese é: LinkDor compartilhada é dor diminuída: autobiografia e formação identitária em blogs de pessoas em condição crônica de doença.
E para agradecer a vocês, que me acompanham aqui no blog, deixo a epígrafe da minha tese, porque era também, e principalmente em vocês, que eu pensava em cada início de frase e cada ponto final:

“Não consigo fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado, recebi muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi. Tive meu intercurso com o mundo, o intercurso especial dos escritores e leitores” Oliver Sacks (Gratidão – Cia das Letras, 2015)

Até mais!
Bjs

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Onde há amor

Hoje é dia de São Francisco!
Não ia escrever nada sobre isso. Mas quando comecei um pequeno texto no meu facebook e vi que ia virar textão, resolvi contar aqui pra quem interessar.
Eu não gosto de santos. Não gosto sabe de imagens de santo, de Jesus crucificado... sei lá porque, simplesmente não gosto. Mas com São Francisco sempre foi diferente. É o único santinho que eu tenho imagem. Não que eu reze praquela imagem, mas é algo que me acalma. Olhar prum santinho barbudo com bichinhos em volta traz paz.
Mas, enfim, comecei a gostar de São Francisco ainda pequena, quando li o livro Francisco de Assis (criança estranha é assim, pega livrão cheio de letrinhas pra ler), e lendo o livro achei esse cara o mais de boas da história.
Depois, muito tempo depois, vi o filme Irmão Sol, irmã lua. E fiquei ainda mais encantada pela história do homem Francisco.
Não tenho o hábito de rezar pra São Chiquinho. Eu meio que rezo pro universo, sabe? Mas sei que ele tá ali, nessa falange de benfeitores que olha por mim, pela Terra, pela vida.
Bem, quando eu engravidei, nós tínhamos escolhido nomes de menina. Mas não pensávamos ainda em nomes pra um menino. Num certo momento, antes de saber se era menino ou menina, me veio uma intuição de que eu estava carregando um gurizinho aqui dentro. E no mesmo momento veio o nome: Francisco!
Parece coisa boba, conversa de grávida e tal. Mas os filhos nos dizem o nome que eles querem. O meu, pelo menos eu acredito, me disse. E desde então Francisco é o nome que eu mais falo no meu dia. E São Francisco é uma companhia mais constante.
Algumas pessoas perguntam se escolhemos Francisco por causa do papa. Outras se é por causa de Chico Xavier (já que eu sou espírita). A gente acaba brincando e dizendo que é por causa do Chico Bento, ou do Chico Buarque (somos fãs de ambos). Mas na verdade, ele será Francisco porque escolheu esse nome. E algo me diz, que ele escolheu por causa do São Francisco, esse que inspira todos os outros Franciscos que conhecemos.
Há alguns dias recebemos a visita de uma querida amiga, que eu tive que receber meio correndo porque tinha um compromisso, mas que nos deu um dos presentes mais lindos pro nosso Chiquinho e que está ilustrando o post de hoje. Um São Francisco pintado por um artista plástico de Brasília. Ela nos deu e nos contou que ele pinta o São Francisco com borboletas azuis porque quando teve uma doença e estava se sentindo desesperançoso, rezou para São Francisco e borboletas azuis apareceram pra ele. Quando a Domênica nos contou essa história, meus olhos se encheram d'água, porque as vezes a gente pede sinais e eles vêm. Esse São Francisco será emoldurado e colocado atrás da minha poltrona, que de estudos vai se tornar de amamentação. Assim, quando o Francisco estiver mamando, vai ter uma imagem linda olhando por ele.
Pois bem. Eis que ontem de tarde eu estava trabalhando aqui em casa, sozinha. E estava pensando no Jota, em algumas desesperanças dele e pensando numa forma de resolver. Porque eu não guento ver quem eu amo em sofrimento. Sou meio esponja e vou me entristecendo junto. Rezei (daquele meu jeito meio desajeitado) pro meu anjinho da guarda (como esse danado tem trabalho) e pedi pra ter forças para ser a força que ele precisa. "Do nada", uma música que eu não conhecia (ou conhecia mas não lembrava) começou a tocar na minha cabeça. Na minha cabeça ela tinha a voz de Bethania. E eu parei o que tava fazendo pra procurar a dita da música digitando algumas palavras e o nome da cantora. Tava lá, exatamente a música (clica aqui pra ouvir também). Ouvi duas vezes chorando de soluçar. Enviei pro Jota, que chegaria em casa um pouco depois de eu sair.
Agradeci meu anjinho. E, também não sei porque, à São Francisco. Nesse momento, uma borboleta entrou na sala. Passou por mim e pouso do meu lado. Ficou um tempo ali. Os gatos viram ela, mas nem se atreveram a chegar perto (normalmente eles voam pra pegar borboletas e trucidam em dois segundos). Agradeci novamente, enxuguei as lágrimas e saí pra dar minha aula, com a leveza de quem tem a certeza de que tudo vai dar certo.
Os mais céticos vão dizer que tudo isso é um monte de coincidências. E, sabe, pode até ser que seja. Mas são coincidências que para mim fizeram algum sentido. E, sendo coincidência ou crença, o que importa é o sentido que a gente dá pras coisas. E eu sinto que esse Francisco que está chegando vem pra dizer pra gente que vai ficar tudo bem. Como dizia Francisco, o Santo, onde há amor, não há temor.
Até mais!
Bjs

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

73 é pouco ou é muito?

Oi queridos, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! E eu ando com saudade de escrever. Simplesmente sentar e escrever. Mas a vida tá corrida e quando eu vejo, o dia acabou e eu não escrevi ainda.
Na verdade eu tenho escrito bastante. Estou trabalhando com a produção de conteúdo da AME (muito amor pela AME desde sempre), e às vezes, as palavras que viriam para cá, vão lá pro site da AME (quem ainda não acompanha, nunca é tarde pra começar).
Aí você pode perguntar: mas Bruna, sobre o que você tem vontade de escrever, afinal?
Ah, sobre tudo! ehehhehe. Mas devo confessar que a EM que me importa agora não é a minha, mas a do Jota. A que me toca diariamente e modifica a minha vida não é a minha EM, mas a dele. E eu penso em escrever como me sinto em relação a isso.
Mas também quero escrever sobre a gravidez. Sobre a espera do Francisco. Sobre o quanto isso está nos mudando completamente. O quanto eu estou diferente, interna e externamente. Definitivamente não sou mais a mesma de antes do Francisco. É super clichê, mas, devo dizer que: só sabe quem passa.
Atualmente vivo aqueles dias em que não vejo a hora de pegar meus filhos nos braços, amassar, afofar e morder até cansar (ou seja, nunca!). Mas ao mesmo tempo, acho que não vai dar tempo de fazer tudo que penso que tem que fazer antes dele chegar.
E quando eu digo coisas a fazer antes dele chegar, não é coisas pra ele não. Ele já tem lugar pra dormir, banheirinha, fraldinhas lindas, roupas mais fofas ainda, slings (obrigada tia Tuka) uma família que o ama muito e a julgar pelo tanto que eu cresço diariamente, vai ter comida de sobra. Não sei como acontece com as outras grávidas,  mas eu, que tenho algumas manias de ter tudo meio adiantado, organizado etc., acabo achando que não vai dar tempo, que vou ficar devendo alguma coisa pra alguém. E, no meio de tudo isso, vejo que, às vezes, eu fico devendo pra mim mesma. Me devo algumas horas de sono. Me devo horinhas passando a mão no barrigão e cantando pro Francisco. Me devo sair pra me entupir de sorvete quando dá desejo.
Aí eu olho na tela do celular, e no aplicativo que uso pra saber quantas semanas eu tô (o mesmo que diz que meu bebê tá do comprimento de um salsão) e ele diz: FALTAM 73 DIAS. E ao mesmo tempo que fico feliz e ansiosa, bate a sensação de "não vai dar tempo".
Ainda bem que tenho o Jota e minha mãe pra me chamarem de besta o tempo todo e me acalmarem dizendo que vai dar sim.
Fora isso, eu estou muito bem. Mas muito bem mesmo. Surpreendentemente bem e cheia e energia.
Mas se eu deixar alguém na mão no meio do caminho, me desculpem, é pela melhor, mais linda e fofa causa do mundo: a chegada de mais amor em nossas vidas, nosso pequeno Francisco.
Quero escrever mais, e me desculpem os que não gostam de bebês, porque esse será um assunto recorrente por aqui. Mas hoje era só isso mesmo. Uma pequena atualização com ares de desabafo.
Até mais!
Bjs

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A palavra do dia é: CA-PA-CI-TIS-MO

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo. Nenhuma roupa mais me serve (falarei disso no vídeo de amanhã), mas estamos contentes e contando os dias para a chegada do Francisco.
Até ontem também estava contando os dias para o início das Paralímpiadas aqui no Brasil. Como eu tinha contado aqui pra vocês, eu tinha me inscrito pra ser voluntária nesses jogos. Parei de fazer os treinamentos online quando descobri que estava grávida, fiz as contas e vi que não poderia mais viajar de avião na época dos jogos.
Enfim, estou acompanhando pela TV, naquele um mísero canal que a SporTV tá passando ou no Canal Brasil, que passa só algumas coisas e acompanhando via twitter e facebook o desempenho dos nossos atletas.
Ontem tivemos uma belíssima cerimônia de abertura. Belíssima e emocionante. Não sei se porque eu gosto tanto dos jogos paralímpicos, mas me emocionei demais desde a hora que o despertador do Sir Philip Craven tocou em ritmo de bossa nova. Mas, apesar de belíssima, pra quem viu na TV era excludente: não teve audiodescrição, nem legendas nem janela de libras. Mas pra que tu queria tudo isso Bruna? Porque meus amigos cegos e com baixa visão mereciam saber o que estava acontecendo através da audiodescrição das imagens, porque meus amigos surdos não usuários de Libras queriam saber o que estava sendo narrado e meus amigos surdos usuários de Libras também.
Fiquei com um olho na tv e outro nas redes sociais, lendo o povo reclamar que não tava passando em tv aberta. Belíssimo exemplo de exclusão desses canais que adoram falar de inclusão e colocar pessoas com deficiência como "exemplos de superação" na tela, dramatizando suas vidas para emocionar e fazer as pessoas que se acham muito normais darem "valor a suas vidas" (olha eu aqui revirando ozóio pra isso tudo), não passar a abertura de um dos maiores eventos esportivos que esse país já sediou, com certeza o que teremos maior número de medalhas.
Aí hoje de manhã tava lá na Namariabraga eles falando de uma abertura que ninguém viu, porque a Globo achou melhor passar suas novelinhas e um jogo de futebol podre.
Bom, mas eu fiquei vendo no SporTV. E confesso que dava pulos a cada comentário capacitista e, desculpa aí gente, muito burro dos comentaristas. Só essa transmissão já dava uma tese de doutorado. Eu ouvi "presos a sua cadeira de rodas", eu ouvi "exemplos de superação", eu ouvi "superhumanos", eu ouvi "imperfeitos buscando a perfeição", eu ouvi "que sofrem de"... e a coisa só piorava.
Aí nas redes sociais um bando de ovelinhas reproduzindo esses comentários... tava de doer o coraçãozinho. E eu do sofá de casa: imperfeito? Imperfeito teu c*! Presos? Como assim presos? A cadeira é liberdade, é autonomia minha gente! Sofrem de? Quem sofre aqui sou eu tendo que ouvir isso tudo...
Minha vó tava na sala... e cada delegação de atletas que entrava ela soltava um tadinho pra algum deles... não me guentei e disse que ela seria expulsa da sala no próximo tadinho.
E quando a esplendorosa Marcia Malsar caiu? Aaaaah... choveu de gente comentando que ela precisava de um acompanhante ou que ela não devia fazer aquilo. Sério?
Bom, acabou a cerimônia com um misto de emoção, felicidade e de "temos muito trabalho pela frente".
Acho que os profissionais de mídia (e todo ser humano na verdade), deveriam ler o manual Mídia e Deficiência antes de abrir a boca pra falar publicamente sobre deficiência. (Tá disponível aqui, leiam!). E acho que todo mundo devia se informar mais sobre o assunto. Porque ontem vi muita gente dizendo: mas Bruna, as pessoas não sabem disso tudo, dessa história do movimento da pessoa com deficiência. Não sabem porque não querem! A informação tá aí disponível e acessível para todos! Acho muito engraçado que durante quatro anos ninguém se interesse por saber nada sobre deficiência, aí chega no dia da abertura dos Jogos Paralímpicos e reclamam porque a cerimônia tinha muitas referências que só quem tem ou estuda o movimento sabe. Não sabe porque não quis saber, não quis aprender, não quis ler, não quis conversar com ninguém... Há quem diga que é por falta de tempo... cansei de ouvir professores de escolas dizendo que não entendem de inclusão porque não tem tempo. E eu sempre lembro do mantra que minha mãe me ensinou: tempo é questão de preferência minha filha!
Acho que o capacitismo precisa acabar. Ontem!
Mas o que é CAPACITISMO Bruna?
Bem, vamos lá, que ninguém nasce sabendo: capacitismo é a discriminação direcionada às pessoas com algum tipo de deficiência em virtude de sua condição. Chamar de coitadinho, achar que ali não é seu lugar, achar que toda pessoa com deficiência tem que ter um "responsável" por ela, achar que toda pessoa com deficiência sofre, que a falta de uma função é imperfeição, tudo isso é sim discriminar. Ah, e parem de falar pessoas especiais, pessoas com necessidades especiais, portadores de... especiais todos somos pra alguém e portador é quem pode deixar de portar... ninguém diz que porta olhos azuis né? Digam o nome certo, percam o medo da palavra deficiência. É: pessoa com deficiência. Não se preocupem, deficiência não é o contrário de eficiência. O contrário de eficiência é ineficiência. Deficiência é sinônimo de perda de alguma função apenas. Então, a pessoa é, primeiro uma pessoa que tem uma deficiência. Se ela vai ser especial pra você ou não é outro assunto.
Ah, e essa coisa de exemplo de superação é um saco. Só serve para quem não tem alguma deficiência se sentir melhor (ou pior) com a vida que tem. Essa coisa de: apesar da deficiência ele foi lá e venceu; isso também é capacitismo, porque você está vendo a deficiência e não as capacidades da pessoa.
Ontem, naquelas delegações todas que entraram, eu não vi exemplos de superação de vida, eu vi muitos atletas de ponta que estão lá, buscando medalhas e vitórias nos seus esportes.
É mais difícil porque tem uma deficiência? Sem dúvida é, porque o mundo não é pensado para que a pessoa com deficiência tenha autonomia. Porque as pessoas ainda acham que quem tem uma deficiência devia mais era ficar em casa, pra não incomodar. Porque acham que, gente como eu, que fica exigindo acessibilidade em todos os lugares é chata.
Sou chata mesmo. E se reclamar, vou ser mais chata ainda. Porque eu quero ter o direito de conviver com todas as pessoas que eu gosto, tenham elas ou não uma deficiência. Eu quero pode convidar um amigo cadeirante, cego, surdo, tetra, para, hemiplégico pra sair sem me preocupar com a forma como vamos sair, passear e curtir a vida. Eu quero que meu marido possa levar nosso filho passear sem ninguém falar "olha que bonitinho", como se os dois fossem crianças, nem que achem que nossa vida é uma vida de sofrimento.
Eu quero mesmo é ver os jogos paralímpicos serem disputados junto com os olímpicos. As pessoas dão a desculpa da logística, porque tem que adaptar os lugares pra pessoa com deficiência. Oi? Sério isso? Sejamos honestos, um lugar 100% acessível é adequado para pessoas com e sem deficiência. O que falta é vontade mesmo.
Mas, como eu disse, temos muito trabalho pela frente.
E bóra torcer pelos atletas brasileiros!
Bjs

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Moda? Inclusiva?


Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! Francisco crescendo saudável e bem agitadinho dentro da barriga.
Hoje quero comentar um evento que participei ontem, à convite do Diversidade na Rua - Mercur na Univates (Unidade Integrada do Vale do Taquari de Ensino Superior - Lajeado), o Desfile de Moda Inclusiva.
Coloquei convite na fanpage do blog no face, e ontem também coloquei o link pra todos poderem acompanhar ao vivo. Já recebi retorno de algumas pessoas que conseguiram ver online e elogiaram a nossa roda de conversa sobre moda e inclusão. Também quero fazer um agradecimento especialíssimo a minha amiga Glaci, que foi de Teutônia à Lajeado ver a gente e ainda trouxe um monte de frutas gostosas pra satisfazer os desejos de Francisco (laranja e bergamota da Glaci tem outro sabor!).
Reencontrar a Carlena, conhecer pessoalmente a estilista e linda Vitória Cuervo, que eu conhecia apenas o trabalho, conhecer a Cris, que trabalha com a Carlena, é uma queridona e nos deu uma força também foi um imenso prazer. Ah, e temos que agradecer também ao Jessé, que dirigiu aguentando nossa tagarelice na ida e na volta...hehehehe.
Mas vamos ao evento, certo?
A proposta era ser um desfile de moda inclusiva. Ou seja, utilizar a moda como forma de inclusão, no caso, de pessoas com deficiência. A ideia surgiu um pouco naquele encontro que tivemos no ano passado sobre deficiência e beleza (não viu? Veja aqui) e falávamos sobre o quanto o mundo da moda e da beleza não é pensado para o singular, o diferente, seja essa diferença uma deficiência, uns quilos a mais, um corpo diferente do magro, esbelto e "perfeito" (se é que isso existe).
Essa proposta foi apresentada ao curso de moda da Univates, que deveria desenvolver com suas alunas (futuras) estilistas um desfile de moda inclusiva.
O evento consistia em três momentos: uma roda de conversa sobre moda e inclusão, comigo, a Carlena, a Vitória, a Susana (uma das modelos do desfile) e uma das estilistas, com uma mediadora. Depois teríamos a apresentações de dança e um desfile de moda inclusiva.
Mas, infelizmente, não foi exatamente isso que vimos.
Mas por que Bruna?
Bem, vamos por partes...
Acho que na roda de conversa conseguimos dar uma noção muito geral sobre inclusão das pessoas com deficiência na nossa sociedade. Destacamos o quanto não queremos ser exemplo de vida muito menos de superação pra ninguém, falamos que a moda não é pensada para quem tem dificuldades em abotoar uma camisa, andar sem salto alto e o quanto não devemos comparar nem pessoas nem deficiências. Apesar da falta de preparo da mediadora, conseguimos dar nosso recado sobre viver com uma deficiência: não é fácil, mas também não é impossível. Não somos melhores que ninguém, nem mais iluminados, nem mais importantes, nem mais sofredores, nem mais coitadinhos por causa disso. A Vitória, que já trabalha com moda inclusiva há muitos anos explicou, rapidamente, que a moda inclusiva não é a roupa adaptada individualmente, mas a moda pensada para todos e todas. Aquele velho conceito de acessibilidade que diz que acessível e inclusivo é aquilo que possibilita o máximo de autonomia à todas as pessoas, independente de suas limitações funcionais.
Eu fiz questão de reforçar que inclusão não é algo para as pessoas com deficiência, mas é algo para todas as pessoas, uma vez que possibilita que todos convivam com as diferenças. Lembrei disso ao ouvir a menina do curso de moda falar que para a maioria delas foi o primeiro contato que tiveram com pessoas com deficiência. Quem perde com essa falta de contato com as deficiências desde a infância é toda a nossa sociedade, que não sabe o que fazer quando se depara com uma pessoa com deficiência à sua frente, que fica com medo de conversar com um cego, que dá esmola pra qualquer pessoa que esteja numa cadeira de rodas, que foge sem tentar conversar com alguém surdo, que prefere ignorar a presença de pessoas com deficiência intelectual, que acha fofinho alguém com síndrome de down e faz graça de anão. Quem perde com a falta de inclusão é toda a nossa sociedade, que fica achando que toda pessoa com deficiência é exemplo de superação só porque vai até a padaria da esquina comprar um pão. Quem perde é quem continua dividindo as pessoas entre normais e deficientes.
Bem, essa foi a nossa roda de conversa.
Depois tivemos apresentações de dança com grupos de dança de algumas APAE's (desculpa gente, não lembro de quais cidades eram). Parabéns aos bailarinos!
E aí começou o desfile, que acompanhei das coxias do teatro. Confesso que quando eu ouvi a palavra portadores de deficiência no microfone, me doeu mais até do que a palavra normal proferida durante a conversa. Confesso também que escrever esse post pra mim é um pouco triste. Passei o dia de hoje inteirinho pensando sobre isso. Me sinto um pouco aquele lado do casal que diz: precisamos conversar!
O que eu vi não foi um desfile de moda. Não teve uma coleção de moda coerente. Não teve moda inclusiva. Não teve inclusão.
Novamente, vamos por partes.
Não teve uma coleção de moda, porque não foi uma coleção pensada para ser um desfile de moda. Amiga Vitória, que é estilista, se eu tiver errada me corrige, mas no pouco que eu entendo de moda, um desfile de uma coleção tem que ter uma coerência entre as peças, um tema pelo menos que perpasse as peças utilizadas pelos modelos. O tema podia até ser os sonhos dos modelos, como foi tão reiterado (já comento isso) na fala da apresentadora.
Não teve moda inclusiva, porque as roupas não tinham absolutamente nada que fosse pensado para a especificidade de cada uma das deficiências. As especificidades de ter uma deficiência motora, visual, auditiva etc., não foi problematizada no vestuário.
Não teve inclusão porque o que teve foi integração. E aqui eu desenho pra vocês a diferença entre inclusão e integração:

Inclusão é quando pessoas com e sem deficiência participam, igualitariamente e com equidade das atividades. Integracionismo é quando pessoas sem deficiência criam um evento do qual pessoas com deficiência possam participar, mas de forma diferenciada e separada das pessoas sem deficiência. Esse desenho fica fácil de explicar se pegarmos a escola como exemplo. Na lógica da exclusão, pessoas com deficiência não tinham direito nem lugar para estudar. Elas eram excluídas do processo educativo. Na lógica da segregação as pessoas com deficiência "ganharam" espaços para estudar, mas longe dos ambientes educativos considerados regulares. Na lógica da integração, classes especiais eram criadas dentro de escolas regulares, ou seja, pessoas com deficiência ganham um espaço perto, mas não a interação, o junto. Na lógica da inclusão, pessoas com e sem deficiência estudam na mesma sala de aula de forma igualitária, com os mesmos direitos e equitativa, ou seja, as especificidades da pessoa enquanto aluno deve ser atendida para que ela consiga permanecer no ambiente educacional.
Pensando assim, para ser um desfile de moda inclusiva, deveria contemplar a moda, com peças de roupas usáveis, que atendessem as especificidades dos usuários e tinha que ter essa mistura, de pessoas com e sem deficiência.
O que aconteceu foi que cada modelo (crianças e adultos) entrava, era apresentado a partir de sua deficiência como principal formador identitário, antes da pessoa, a deficiência, junto com sua "madrinha" (que era a estilista do figurino) reforçando a ideia de que a pessoa com deficiência precisa de alguém que o leve pela mão, e o texto lido pela apresentadora falava de sonhos, superação e amor, nada de modelagem, cortes e tecidos. Não se soube sobre o trabalho de produção das peças, só de aspectos subjetivos e clichês de esperança e superação. Aliás, algumas das peças se mostravam totalmente inadequadas, pelo simples fato de não dar autonomia e conforto a quem a vestia.
O que eu vi lá é o que a nossa sociedade está acostumada a ver desde o século XIX e que até o início do século XX era conhecido como freak show (quem nunca ouviu falar, pode dar uma olhadinha nesse filme, que retrata bem esses circos humanos: Freaks): exposição de pessoas com diferenças significativas para o espetáculo, para que as pessoas ditas normais olhassem, admirassem e pudessem voltar pra suas casas sentindo-se melhores por terem "proporcionado" esse "momento único" na vida dessas "vítimas do destino" e pensarem que seus problemas nem são tão grandes assim diante desses "exemplos de superação".
Quem foi, gostou, achou lindo e se emocionou, não se preocupem, isso está tão naturalizado na nossa sociedade que ninguém se questiona sobre o quanto isso vai contra todo o movimento de inclusão e de toda uma luta por direitos.
Não culpo os modelos e as famílias também, que provavelmente veem esse como um único momento em que seus filhos e filhas ganham destaque no centro de um palco. Mas o que eu digo, por experiência própria, é que um mundo inclusivo é muito mais que isso. Porque num mundo inclusivo a deficiência é apenas mais um aspecto identitário e não o principal. E a gente vai pro centro do palco pelas nossas qualidades, trabalhos, experiências e não pelo simples fato de ser considerado diferente e "anormal", como algo exótico a ser mostrado.
Mas fico me perguntando porque a Univates e o pessoal do Diversidade não pensaram em dar aulas sobre deficiência, inclusão, sobre o movimento das pessoas com deficiência até mesmo para elas escolherem as palavras corretas a serem utilizadas. Porque não chamaram uma estilista, como a Vitória Cuervo, que trabalha com moda inclusiva para ensinar o que é moda inclusiva, o que é um desfile de moda inclusiva. Porque não assistiram a desfiles de moda inclusiva mundo afora. Eles estão disponíveis no youtube. Aposto que, em um workshop de um dia, em dois turnos, a concepção de moda e inclusão delas seria outro. O vocabulário seria outro.
Eu sei que eventos integracionistas continuarão acontecendo. E eu vou continuar lamentando isso. Mas para chamar um evento de inclusivo é necessário estudar um pouco mais sobre o conceito de inclusão. É necessário estar mais perto de quem vive, trabalha, estuda, sente na pele a luta pela inclusão. Porque, vou contar um negócio pra vocês, ter uma deficiência não é necessariamente ter consciência de um posicionamento inclusivo, da mesma forma que ser mulher não te dá automaticamente consciência de gênero.
Eu não sei que problema de comunicação houve aí no meio do caminho, porque eu vejo essa luta pela inclusão e acessibilidade no Diversidade na Rua desde que conheci a equipe. E por isso que o choque foi grande.
Espero que, havendo uma segunda edição, realmente possamos dizer que essas duas coisas estão presentes: moda e inclusão.
O que eu vi foi uma mistura de desfile de miss (daqueles que falam sobre a vida da criatura que tá desfilando... aliás, só a análise dos textos de apresentação já mereciam, no mínimo, uma dissertação  dentro do âmbito dos estudos sobre deficiência), desfile de fantasia de carnaval (porque cada uma tinha um tema diferente e muitas eram fantasias mesmo), assistencialismo (madrinha? sério?) e apresentação de final de ano da escolinha.
Amigos e amigas, se quiserem continuar fazendo o evento nesse formato, mudem o nome, porque enquanto se chamar desfile de moda inclusiva, eu vou ir esperando ver um desfile de moda inclusiva.
Sabe, eu sofri pra escrever isso tudo. Sofri pelo que vi e passei o dia todo sofrendo pensando numa forma delicada de dizer isso tudo. A verdade é que é difícil. Ser o lado que faz a crítica é sofrido. Principalmente a partir da expectativa que eu tinha sobre o evento.
Eu poderia não ter dito nada, é verdade. Mas eu assumi um compromisso com o movimento das pessoas com deficiência muito antes de eu ter uma deficiência. E faz parte desse compromisso dizer pras pessoas quando algo incomoda quem está na luta há tanto tempo. Porque não é por maldade que as pessoas fazem isso, é por uma falta de reflexão ou de conhecimento ou das duas coisas juntas mesmo. As vezes as pessoas tem uma ótima intenção, mas a execução acaba não sendo algo que desconstrói o preconceito, apenas o reforça com uma maquiagem.
Estar no lugar de quem quer mudar e desconstruir é difícil. E às vezes é solitário também. Mas, pensando muito, o dia inteiro sobre isso, pensei que se eu não falasse nada, eu estaria me traindo.
Espero que consigam entender.
Até mais!
Bjs

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Mais vídeos...

Gente, vocês já viram os vídeos das últimas semanas?
Não tenho escrito muito, mas editar os vídeos toma um tempão...
Espero que curtam!









Até mais!
Bjs

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

É hora de agirmos!

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Como a maioria já sabe, a Conitec optou, no mês passado, pela exclusão do Avonex do SUS para novos pacientes. Agora, apenas as pessoas que já faziam uso do Avonex vão continuar a receber a medicação.
Eu, você e a AME não concordamos com isso. Acreditamos que os pacientes precisam de mais opções de tratamento, e não menos. Estão nos tirando direitos adquiridos. E nós não vamos nos calar.
Então, se você concorda com a gente, entenda a questão e aja junto com a gente!
Acesse nossa enquete e participe:
https://apps.facebook.com/minhas-enquetes/form/recursoame
Até mais!
Bjs

terça-feira, 26 de julho de 2016

Nossos amigos, não mais, secretos

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo. Devo muitas novidades... e hoje começo contando sobre a participação aqui de casa (eu e o Jota) no amigo secreto virtual promovido pelo Diversidade na Rua, da Mercur.
Bom, ainda em maio o pessoal da Mercur entrou em contato com a gente pra saber se toparíamos participar de um amigo secreto diferente. Um amigo secreto entre os amigos que colaboram com o Diversidade na Rua. Um amigo secreto mesmo, afinal, a maioria de nós não se conhece pessoalmente (por enquanto, eu só conheço o Jota...hehehe).
Não pensamos duas vezes: topamos!
Primeiro conhecemos todos os participantes no site do evento. Li o perfil de cada um deles e abri os sites e blogs de todos pra conhecer um pouquinho melhor. Ainda sem saber quem seria minha pessoa secreta, cheguei a conclusão de que poderia ser amiga de qualquer um dos participantes. Lendo sobre suas vidas e fuçando seus facebooks, vi que adoraria sentar num boteco e passar meu tempo jogando conversa fora com o povo todo.
Todos os convidados tinham uma coisa em comum: defendem a diversidade, lutam por acessibilidade e inclusão. Ou seja, todos eram um pouco de mim também. Alguns de nós, participantes, temos alguma deficiência física ou sensorial, outros tem pessoas com deficiência em suas famílias ou círculo íntimo de amizade, outros escolheram trabalhar com isso porque simplesmente acham que é o certo. No fim das contas, estamos todos no mesmo barco, lutando pelas mesmas coisas, cada um em um canto desse país.
Justamente por morarmos longe uns dos outros, não foi possível ter uma revelação de amigo secreto presencial, onde pudéssemos descobrir o tamanho do abraço de cada um. Mas nos envolvemos com nossas vidas e histórias de tal forma que, na hora da revelação, me senti na mesma sala que todos, tomando um café e vendo os lindos presentes escolhidos de forma tão especial para cada um.
No dia da revelação eu e o Jota estávamos num congresso acadêmico e eu fugi da palestra pra descobrir quem tinha me pegado. Bobinha eu, achando que ia voltar rapidinho... demorei uma meia hora pra recompor de tanta emoção (veja aqui o vídeo).
Eu peguei a Carmem Toledo, uma filósofa, escritora, artista talentosíssima, que mantém, junto com seus amigos e parceiros, o projeto Super Specialis, voltado, principalmente as questões de inclusão de pessoas com deficiências cognitivas como deficiência intelectual, altas habilidades e transtornos de desenvolvimento. Super me identifiquei com o Super Specialis não só porque o projeto é lindo, mas porque a vivência com a deficiência cognitiva e com a doença mental é algo que faz parte da minha formação como pessoa, afinal, minha irmã mais velha tem deficiência intelectual e esquizofrenia. E é tão difícil encontrar pessoas que se preocupem com essas deficiências que eu fiquei muito feliz em conhecer mais um grupo de amigos que se preocupam com quem vive isso diariamente, como a gente.
Pra escolher meu presente, fui atrás do perfil da Carmem e descobri que ele é fã de Tintin. Como eu não sou muito boa com trabalhos manuais, o meu presente foi feito por um pessoal da Redenção que trabalha com papel maché (conheça aqui o trabalho deles). Encomendei, especialmente pra Carmem, um quadrinho com uma releitura do Tintin pra ela enfeitar seu quarto, escritório, onde quiser. Mas aí, lendo mais sobre ela, descobri dois artigos que ela escreveu sobre a amizade em Tintin, e entendi que a amizade é uma valor muito importante pra ela. Tanto quanto é pra mim. Aí, resolvi apresentar pra ela meus personagens preferidos (e seus amigos) em alguns porta copos no mesmo material do quadrinho. Assim, envio pra Carmem meus amigos Mafalda, Calvin e Haroldo, Garfield e Odie, Snoopy e Woodstock e também uma Frida com ela mesma, afinal, devemos nos amar e sermos amigos de nós mesmos para poder oferecer algo de bom aos outros. Espero que a Carmem goste do meu presente!
Quem me pegou foi a linda da Carol Constantino, do Cantinho dos Cadeirantes. Ela me emocionou demais com as palavras e os presentes (eu já recebi). Uma linda echarpe laranja, igual a da logo aqui do blog (eu não tinha ainda, acredita?), um sapatinho vermelho pro Francisco (pra quem não sabe, tem uma simpatia de que o bebê tem que sair de sapatinho vermelho da maternidade, pra dar sorte e saúde) e uma camiseta com a logo aqui do blog, que eu também não tinha e vou amar exibir por aí...
Carol, muito obrigada! Como moramos perto, ainda precisamos marcar um encontro!!!!
Bom, agora passo a palavra ao Jota, que também quer falar sobre o presente que ele escolheu pra seu amigo secreto, o Adelino Ozores do Sobre Rodas e Batom:


Olá Adelino! Tudo bem?

Feliz em te conhecer! Foi um prazer “fuçar” no teu Face e no site do Entre Rodas & Batom e conhecer um pouco do trabalho maravilhoso que realizam, como disse no vídeo, com essas duas figuras frágeis e gigantes: a mulher e a pessoa com deficiência. Digo conhecer porque às vezes ficamos tão limitados em nosso caso (no meu, no caso de minha esposa e da Associação que trabalhamos) que acabamos não conhecendo tanto o trabalho de outros que enfrentam as mesmas condições e lutam as mesmas batalhas.
A fragilidade e gigantismo de que falo não é uma “qualidade natural” desses personagens, mas uma “natureza construída”. Uma segunda pele em resposta dos preconceitos, discursos e atitudes de uma sociedade que se aproveita das limitações do corpo com uma deficiência física. E, por isso, nos exige uma postura cotidiana de enfrentamento, de gigantismo. O que é visto pelos outros como “superação” é só a vida e as dificuldades que a pessoa com deficiência enfrenta diariamente.
Lógico, isso não dava para explicar em um vídeo de 1 minuto (ainda bem). Nem dava para explicar o meu presente. O motivo para eu ter escolhido o que escolhi. Como verá, mandei para você uma arte feita em arame. É um trabalho de um artesão aqui de um parque próximo de casa, a Redenção (se um dia quiserem vir nos visitar em Porto Alegre e também conhecer a Mercur levamos você e a Eliane lá). Brinco com a Bruna que decidi isso porque minha motricidade fina não está muito boa atualmente, hehe. Mas a verdade é que, mesmo que minhas mãos funcionassem normalmente, não conseguiria fazer algo do tipo. Nunca fui bom com trabalhos manuais e por isso preferi comprar algo.
O que lhe envio é um objeto que estava em exposição. Inicialmente, conversei com o artesão sobre a possibilidade de encomendar algo e voltei para casa sem nada. No entanto, me lembrei de uma coisa que li uma vez em um livro sobre a Cultura do Barroco e que parecia se encaixar perfeitamente naquele artesanato e para a nossa sociedade do século XXI. Lá dizia algo que o indivíduo barroco tinha que, ao mesmo tempo, lidar com as forças do mundo medieval, que pretendiam lhe estruturar e enquadrar, e construir uma subjetividade de enfretamento às determinações sociais na nova liberdade que se abria. Nessa estrutura, o sujeito estava liberto das formas fixas da ordem medieval, mas em uma sociedade que reforçava os mecanismos de repressão daquele mundo.
A época é outra, mas acredito ser aplicável à nossa sociedade e ao móbile. Provavelmente, o artesão não tenha pensado em nada disso e tal coisa seja uma viagem só minha. Mas vejo um indivíduo (mulher), que se utiliza de uma moldura (uma força que em uma arte em 2D a enquadraria em um espaço limitado) para se apoiar e romper essa estrutura dançando. Uma atitude que talvez, deva ser a nossa. Um indivíduo que sabe da moldura (todos os discursos, instituições, comportamentos etc.), mas a utiliza como apoio para dança.
Abraço e espero que goste.
Jota

22/07/2016