segunda-feira, 11 de abril de 2016

Habitantes D'ela - uma experiência incrível

Arte de Lucas Rachewsky e Daniel P. Teixeira (imagem salva no facebook da peça)

Oi gentes, tudo bem?
No último sábado saí de casa para ir na estreia de uma peça de teatro. Uma peça que, segundo a minha irmã, ela e os amigos dela ajudaram. Ela e os amigos dela são o pessoal da AGAFAPE, Associação Gaúcha de Familiares e Pacientes Esquizofrênicos. Eu já havia visto alguns teasers (pequenos vídeos que promovem o evento antes dele acontecer) e estava curiosíssima. Fato é que acabei vendo muito mais que uma peça de teatro, um espetáculo de dança e tecnologia. Era também tudo isso junto, mas era muito mais que isso.
Por isso hoje vou tentar escrever sobre o que vi. Sem pretensão nenhuma de ser crítica de arte (porque não sou, não tenho competência pra isso), apenas um comentário sobre algo que me tocou profundamente em diversos sentidos.
O nome da peça é Habitantes D'ela. E, honestamente, eu não posso dizer que conta a história de uma pessoa, de uma mulher e que é uma história linear. Em alguns momentos eu sentia que ela contava a minha história, a da minha irmã, da minha família com a esquizofrenia. Eu vi a nossa casa no palco.
Mas os tormentos, os sofrimentos estavam tão lindo no palco. Eram idênticos e ao mesmo tempo diferentes do que vivemos. Porque quando vivemos dói. Mas a verdade é que, quando contamos, já não parece que a história é nossa.
A peça é encenada por uma atriz, que aliás, é fenomenal. Mas me parecia que havia uma multidão em em cena. Todos os habitantes d'ela preenchiam aquele espaço. Todos os habitantes d'ela enchiam o ambiente de emoções, de arrepios, de lágrimas, de frios na espinha, de borboletas no estômago.
A verdade (se é que existe uma verdade) é que somos todos pequenos universos habitados por multidões. Alguns de nós conseguem destacar apenas um ou dois e deixar os outros adormecidos. Mas para alguns isso é impossível. Não há controle. E para esses damos o diagnóstico, o rótulo de loucos. Outra verdade é que, quando ganhamos um rótulo de doença (mental ou física), esse rótulo diz muito mais sobre o que esperam (ou não esperam) de nós do que sobre a nossa patologia. Mais uma verdade: pouco se sabe realmente sobre as patologias. Imagina-se que se sabe e rotula-se quem tem. Através da linguagem dizemos quem é isso ou aquilo, quem pode e quem não pode, quem deve e quem não deve não sei o que. Pela linguagem excluímos, segregamos e taxamos de loucura aquilo que não entendemos.
Quando minha irmã disse que eles tinham ajudado na peça, ela tinha razão. O Coletivo Habitantes, pessoas maravilhosas que pensaram esse espetáculo, entenderam na raiz o que queremos dizer com "nada sobre nós sem nós". E por isso que conseguimos nos ver no palco. Porque houve respeito e delicadeza na representação.
Bom, para além dessa parte mais emotiva da peça, tenho que dizer que é indescritível o que a atriz Renata de Lélis faz no palco com seu corpo. Enquanto a peça fala, de certo modo, sobre o não controle, o controle sobre o corpo dela para mostrar esse não controle é algo inexplicável. A parte tecnológica de áudio e vídeo não ficam pra trás. A tecnologia incorpora o espetáculo de uma forma tão natural que parece ser o corpo dela. Além da cenografia e do figurino estarem perfeitos e da trilha sonora ser uma obra linda. Mas eu queria ainda falar sobre o texto. O texto é de uma delicadeza, de uma inteligência de uma "humilde grandiosidade" (desculpem, não achei um adjetivo melhor), que eu queria ter ele em mãos por escrito para ler e reler e reler e reler... 
Infelizmente não tenho palavras suficientes para falar sobre a peça. Por isso convido todos que estão em Porto Alegre a assistirem a peça, que fica em cartaz até 01 de maio, todos os sábados e domingos na Casa Cultural Tony Petzhold (Cristóvão Colombo, 400). A casa não tem acessibilidade total, mas na entrada tem uma rampa e para chegar ao palco são cinco degraus. Conversei com eles porque o Jota acabou não indo com medo de quantos degraus eram, e eles falaram que nos ajudam a subir os degraus. Pessoal super gente boa, caso vocês também precisem viram? Eu vou, novamente, no dia 24 de abril, mas se quiserem companhia em outro dia, me convidem que eu vou!
Ao Coletivo Habitantes só posso deixar meu (não suficiente) muito obrigado pela experiência. E os parabéns pela peça, pelo projeto, pela delicadeza e humanidade. Vocês são lindos!
Vocês podem explorar esse universo no facebook da peça e no tumblr também. 
Facebook Habitantes D'ela
Tumblr Habitantes D'ela
E verem os teasers aqui também:



TEASER 1 -  Habitantes d'Ela from Coletivo HABITANTES on Vimeo.



TEASER 2 -Habitantes d'Ela from Coletivo HABITANTES on Vimeo.



HABITANTES d'ELA - primeira temporada from Coletivo HABITANTES on Vimeo.



TEASER 3 - Habitantes d'Ela from Coletivo HABITANTES on Vimeo.



TEASER 4 -Habitantes d'Ela from Coletivo HABITANTES on Vimeo.


Serviço:
O que? Habitantes D'ela - espetáculo de teatro, dança e vídeo-mappind
Quando? De 9 de abril a 1 de maio, sábados às 20h, domingos às 19h 
Onde? Casa Cultural Tony Petzhold (Cristóvão Colombo, 400)
Quanto? 20 reais (10 reais para idosos, estudantes e classe artística - mediante comprovação)
Porque? Porque é incrível!
Até mais!
Bjs

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