quarta-feira, 28 de setembro de 2016

73 é pouco ou é muito?

Oi queridos, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! E eu ando com saudade de escrever. Simplesmente sentar e escrever. Mas a vida tá corrida e quando eu vejo, o dia acabou e eu não escrevi ainda.
Na verdade eu tenho escrito bastante. Estou trabalhando com a produção de conteúdo da AME (muito amor pela AME desde sempre), e às vezes, as palavras que viriam para cá, vão lá pro site da AME (quem ainda não acompanha, nunca é tarde pra começar).
Aí você pode perguntar: mas Bruna, sobre o que você tem vontade de escrever, afinal?
Ah, sobre tudo! ehehhehe. Mas devo confessar que a EM que me importa agora não é a minha, mas a do Jota. A que me toca diariamente e modifica a minha vida não é a minha EM, mas a dele. E eu penso em escrever como me sinto em relação a isso.
Mas também quero escrever sobre a gravidez. Sobre a espera do Francisco. Sobre o quanto isso está nos mudando completamente. O quanto eu estou diferente, interna e externamente. Definitivamente não sou mais a mesma de antes do Francisco. É super clichê, mas, devo dizer que: só sabe quem passa.
Atualmente vivo aqueles dias em que não vejo a hora de pegar meus filhos nos braços, amassar, afofar e morder até cansar (ou seja, nunca!). Mas ao mesmo tempo, acho que não vai dar tempo de fazer tudo que penso que tem que fazer antes dele chegar.
E quando eu digo coisas a fazer antes dele chegar, não é coisas pra ele não. Ele já tem lugar pra dormir, banheirinha, fraldinhas lindas, roupas mais fofas ainda, slings (obrigada tia Tuka) uma família que o ama muito e a julgar pelo tanto que eu cresço diariamente, vai ter comida de sobra. Não sei como acontece com as outras grávidas,  mas eu, que tenho algumas manias de ter tudo meio adiantado, organizado etc., acabo achando que não vai dar tempo, que vou ficar devendo alguma coisa pra alguém. E, no meio de tudo isso, vejo que, às vezes, eu fico devendo pra mim mesma. Me devo algumas horas de sono. Me devo horinhas passando a mão no barrigão e cantando pro Francisco. Me devo sair pra me entupir de sorvete quando dá desejo.
Aí eu olho na tela do celular, e no aplicativo que uso pra saber quantas semanas eu tô (o mesmo que diz que meu bebê tá do comprimento de um salsão) e ele diz: FALTAM 73 DIAS. E ao mesmo tempo que fico feliz e ansiosa, bate a sensação de "não vai dar tempo".
Ainda bem que tenho o Jota e minha mãe pra me chamarem de besta o tempo todo e me acalmarem dizendo que vai dar sim.
Fora isso, eu estou muito bem. Mas muito bem mesmo. Surpreendentemente bem e cheia e energia.
Mas se eu deixar alguém na mão no meio do caminho, me desculpem, é pela melhor, mais linda e fofa causa do mundo: a chegada de mais amor em nossas vidas, nosso pequeno Francisco.
Quero escrever mais, e me desculpem os que não gostam de bebês, porque esse será um assunto recorrente por aqui. Mas hoje era só isso mesmo. Uma pequena atualização com ares de desabafo.
Até mais!
Bjs

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A palavra do dia é: CA-PA-CI-TIS-MO

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo. Nenhuma roupa mais me serve (falarei disso no vídeo de amanhã), mas estamos contentes e contando os dias para a chegada do Francisco.
Até ontem também estava contando os dias para o início das Paralímpiadas aqui no Brasil. Como eu tinha contado aqui pra vocês, eu tinha me inscrito pra ser voluntária nesses jogos. Parei de fazer os treinamentos online quando descobri que estava grávida, fiz as contas e vi que não poderia mais viajar de avião na época dos jogos.
Enfim, estou acompanhando pela TV, naquele um mísero canal que a SporTV tá passando ou no Canal Brasil, que passa só algumas coisas e acompanhando via twitter e facebook o desempenho dos nossos atletas.
Ontem tivemos uma belíssima cerimônia de abertura. Belíssima e emocionante. Não sei se porque eu gosto tanto dos jogos paralímpicos, mas me emocionei demais desde a hora que o despertador do Sir Philip Craven tocou em ritmo de bossa nova. Mas, apesar de belíssima, pra quem viu na TV era excludente: não teve audiodescrição, nem legendas nem janela de libras. Mas pra que tu queria tudo isso Bruna? Porque meus amigos cegos e com baixa visão mereciam saber o que estava acontecendo através da audiodescrição das imagens, porque meus amigos surdos não usuários de Libras queriam saber o que estava sendo narrado e meus amigos surdos usuários de Libras também.
Fiquei com um olho na tv e outro nas redes sociais, lendo o povo reclamar que não tava passando em tv aberta. Belíssimo exemplo de exclusão desses canais que adoram falar de inclusão e colocar pessoas com deficiência como "exemplos de superação" na tela, dramatizando suas vidas para emocionar e fazer as pessoas que se acham muito normais darem "valor a suas vidas" (olha eu aqui revirando ozóio pra isso tudo), não passar a abertura de um dos maiores eventos esportivos que esse país já sediou, com certeza o que teremos maior número de medalhas.
Aí hoje de manhã tava lá na Namariabraga eles falando de uma abertura que ninguém viu, porque a Globo achou melhor passar suas novelinhas e um jogo de futebol podre.
Bom, mas eu fiquei vendo no SporTV. E confesso que dava pulos a cada comentário capacitista e, desculpa aí gente, muito burro dos comentaristas. Só essa transmissão já dava uma tese de doutorado. Eu ouvi "presos a sua cadeira de rodas", eu ouvi "exemplos de superação", eu ouvi "superhumanos", eu ouvi "imperfeitos buscando a perfeição", eu ouvi "que sofrem de"... e a coisa só piorava.
Aí nas redes sociais um bando de ovelinhas reproduzindo esses comentários... tava de doer o coraçãozinho. E eu do sofá de casa: imperfeito? Imperfeito teu c*! Presos? Como assim presos? A cadeira é liberdade, é autonomia minha gente! Sofrem de? Quem sofre aqui sou eu tendo que ouvir isso tudo...
Minha vó tava na sala... e cada delegação de atletas que entrava ela soltava um tadinho pra algum deles... não me guentei e disse que ela seria expulsa da sala no próximo tadinho.
E quando a esplendorosa Marcia Malsar caiu? Aaaaah... choveu de gente comentando que ela precisava de um acompanhante ou que ela não devia fazer aquilo. Sério?
Bom, acabou a cerimônia com um misto de emoção, felicidade e de "temos muito trabalho pela frente".
Acho que os profissionais de mídia (e todo ser humano na verdade), deveriam ler o manual Mídia e Deficiência antes de abrir a boca pra falar publicamente sobre deficiência. (Tá disponível aqui, leiam!). E acho que todo mundo devia se informar mais sobre o assunto. Porque ontem vi muita gente dizendo: mas Bruna, as pessoas não sabem disso tudo, dessa história do movimento da pessoa com deficiência. Não sabem porque não querem! A informação tá aí disponível e acessível para todos! Acho muito engraçado que durante quatro anos ninguém se interesse por saber nada sobre deficiência, aí chega no dia da abertura dos Jogos Paralímpicos e reclamam porque a cerimônia tinha muitas referências que só quem tem ou estuda o movimento sabe. Não sabe porque não quis saber, não quis aprender, não quis ler, não quis conversar com ninguém... Há quem diga que é por falta de tempo... cansei de ouvir professores de escolas dizendo que não entendem de inclusão porque não tem tempo. E eu sempre lembro do mantra que minha mãe me ensinou: tempo é questão de preferência minha filha!
Acho que o capacitismo precisa acabar. Ontem!
Mas o que é CAPACITISMO Bruna?
Bem, vamos lá, que ninguém nasce sabendo: capacitismo é a discriminação direcionada às pessoas com algum tipo de deficiência em virtude de sua condição. Chamar de coitadinho, achar que ali não é seu lugar, achar que toda pessoa com deficiência tem que ter um "responsável" por ela, achar que toda pessoa com deficiência sofre, que a falta de uma função é imperfeição, tudo isso é sim discriminar. Ah, e parem de falar pessoas especiais, pessoas com necessidades especiais, portadores de... especiais todos somos pra alguém e portador é quem pode deixar de portar... ninguém diz que porta olhos azuis né? Digam o nome certo, percam o medo da palavra deficiência. É: pessoa com deficiência. Não se preocupem, deficiência não é o contrário de eficiência. O contrário de eficiência é ineficiência. Deficiência é sinônimo de perda de alguma função apenas. Então, a pessoa é, primeiro uma pessoa que tem uma deficiência. Se ela vai ser especial pra você ou não é outro assunto.
Ah, e essa coisa de exemplo de superação é um saco. Só serve para quem não tem alguma deficiência se sentir melhor (ou pior) com a vida que tem. Essa coisa de: apesar da deficiência ele foi lá e venceu; isso também é capacitismo, porque você está vendo a deficiência e não as capacidades da pessoa.
Ontem, naquelas delegações todas que entraram, eu não vi exemplos de superação de vida, eu vi muitos atletas de ponta que estão lá, buscando medalhas e vitórias nos seus esportes.
É mais difícil porque tem uma deficiência? Sem dúvida é, porque o mundo não é pensado para que a pessoa com deficiência tenha autonomia. Porque as pessoas ainda acham que quem tem uma deficiência devia mais era ficar em casa, pra não incomodar. Porque acham que, gente como eu, que fica exigindo acessibilidade em todos os lugares é chata.
Sou chata mesmo. E se reclamar, vou ser mais chata ainda. Porque eu quero ter o direito de conviver com todas as pessoas que eu gosto, tenham elas ou não uma deficiência. Eu quero pode convidar um amigo cadeirante, cego, surdo, tetra, para, hemiplégico pra sair sem me preocupar com a forma como vamos sair, passear e curtir a vida. Eu quero que meu marido possa levar nosso filho passear sem ninguém falar "olha que bonitinho", como se os dois fossem crianças, nem que achem que nossa vida é uma vida de sofrimento.
Eu quero mesmo é ver os jogos paralímpicos serem disputados junto com os olímpicos. As pessoas dão a desculpa da logística, porque tem que adaptar os lugares pra pessoa com deficiência. Oi? Sério isso? Sejamos honestos, um lugar 100% acessível é adequado para pessoas com e sem deficiência. O que falta é vontade mesmo.
Mas, como eu disse, temos muito trabalho pela frente.
E bóra torcer pelos atletas brasileiros!
Bjs