terça-feira, 18 de abril de 2017

Meus 100 metros

Oi pessoal, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! Ficar cherando o Francisco o dia todo é a mehor coisa do mundo!
Mas não é pra falar das alegrias da maternidade que tô digitando no celular hoje (poderia escrever um milhão de textos e ainda assim seria pouco pra dizer o quanto ser mãe me faz feliz). É sobre os meus 100 metros.
Sim, se você ainda não viu, tá na hora de ver o filme 100 metros, que tá disponível na Netflix (quem não tem netflix, faz aquele plano pra experimentar por 30 dias, só pra ver esse filme, faizfavor!). Resumindo, conta a história de um cara que teve o diagnóstico de EM no auge da carreira profissional, com um filho pequeno e a esposa grávida. Como muitos de nós, negou no início, fez a família sofrer com aquele momento de "só eu importo no mundo porque tenho uma doença" mas mudou de atitude depois de ouvir, de um companheiro de ambulatório (daqueles chatos pra caramba, sabe?), fazendo ou pulsoterapia, ou aplicação de algum medicamento como o Tysabri, que não adiantava fazer nada, em menos de um ano ele não estaria andando nem 100 metros.
Ao piorar e ver que estava realmente difícil andar 100 metros, ele resolveu (resumindo) que ia competir no iron man. Aquela competição de triatlon que o competidor deve fazer 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida. Uma prova prum "homem de ferro" mesmo.
Impossível para alguém com EM, não parece?
Pois bem, não vou contar como ele se prepara para a prova, nem se ele consegue... descubra vendo o filme.
Quero é falar sobre os nossos 100 metros de cada dia.
Para mim, andar 100 metros já foi bem difícil. Só com bengala e ajuda de alguém. Mas confesso que não são os 100 metros percorridos a pé que me preocupam mais. Afinal, há muito tempo descobri que somos muito mais do que um par de pernas. Mas esses 100 metros que são as nossas responsabilidades, nossos sonhos, nossos desejos, nossos desafios, nossos medos, nossos obstáculos, nossas quedas, nossas vitórias.
Nunca fui fã de praticar esportes. Sempre fui aquela pessoa destra, com dois pés e mãos esquerdas pro esporte, sabe? E essa coisa de vida fitness também não foi feito pra mim. Faço pilates por obrigação e porque sei que faz bem pro meu corpo, mas não tenho o desejo de correr, pedalar ou nadar em uma competição. Mas me sinto uma vencedora do Iron man todos os dias quando deito a cabeça no travesseiro, ainda com o Francisco no colo, olho pro Jota deitado ao lado e penso: consegui!
Meu iron man já foi conseguir terminar a faculdade e trabalhar ao mesmo tempo. Depois foi ter um emprego regular, desses com hora pra chegar e sem hora pra sair na área de comunicação. Depois foi fazer o mestrado e manter o blog. Depois fazer o doutorado, manter o blog e namorar um cara de longe. Depois foi comprar uma casa, manter a casa, casar e cuidar da EM minha e do Jota. Agora tem sido cuidar da minha EM, do Jota, da casa, do casamento, do Francisco, do trabalho, do blog e da vida.
Tem dias que eu deito na cama de noite, olho pro Jota e digo que me sinto numa gincana, que acaba uma prova e tem que começar outra. Como no triatlon, quando você acaba a natação e acha que tá acabando, na verdade é só o começo do ciclismo.
Acordo com o sorriso mais lindo (e banguela) do universo, por volta das 7h da manhã, depois de acordar umas 2 ou 3 vezes de madrugada naquela dinâmica de bota no berço, tira do berço, embala, dá mamá, bota no berço... Mesmo levantando morrendo de sono, acordo feliz, por ter esse pacotinho de amor comigo todos os dias. Arrumo Francisco, troco de roupa, faço e tomo meu café e tenho a honra e o privilégio de sair caminhar com meus avós todas as manhãs. Aproveito cada segundo desse passeio matinal em que Francisco se encanta com cada árvore do caminho (prometo um post só sobre esses passeios). Chego em casa, dou mamá, arrumo as mamadeiras, brinco com Francisco e, pouco antes do almoço, na hora da sonequinha dele, pego o celular para responder os emails e ver as demandas de trabalho do dia.
Almoço quando minha mãe ou minha sogra pegam o Francisco no colo. E, ainda bem, não preciso me preocupar em fazer a comida.
De tarde, brinco com Francisco, dou mamá, trabalho e leio na sonequinha dele, resolvo as coisas da casa com o Jota. De noite tem o banho do Jota (e meu), a janta correndinho, o banho do Francisco, o mamá e cama!
No meio de tudo isso, tem os dias em que o Jota acorda pior e precisa de mais ajuda, ou, participa menos das atividades com o Francisco. Tem dias que eu tomo avonex, passo mal a madrugada inteira e fico o dia meio zumbi, mas tendo que fazer tudo, da mesma forma. Tem dias que a demanda de trabalho é maior, e eu choro porque acho que não vou conseguir entregar o que preciso. Tem dias que eu acho que não vou dar conta de andar meus 100 metros.
Mas aí eu lembro que a gente não anda esses 100 metros sozinhos. Que minha família tá junto comigo. Que eu tenho que ser forte por mim, pelo Francisco, pelo Jota. Que essa prova não é só minha e que muita gente tá envolvida nela, como no caso do filme.
Da mesma forma, quando o Jota começa a achar que não vai dar, eu mostro pra ele que essa prova não é só dele. Que muita gente tá envolvida nisso e que ele precisa persistir.
É verdade que às vezes dói. Que a gente chora. Que cansa. Que pensa que não vai dar.
Mas todos nós temos nossos próprios 100 metros diários a percorrer. E cada um de nós sabe como fazer, em quem se apoiar e como ir atrás.
Se seu sonho é participar de um iron man, vá atrás. Se é escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho, vá atrás também. Se é abandonar tudo e sair viajando pelo mundo, vá. Só não deixe de percorrer seus 100 metros, todos os dias. Alguns podem dizer que é loucura, que é impossível ou que não vale a pena. Mas só você sabe o que vale ou não pra você!

Ah, e sobre o filme... chorei litros. Me vi enquanto pessoa com EM, mas muito mais, confesso, enquanto esposa de alguém com EM. Só de lembrar do final do filme (tá, vou contar), quando aparecem imagens reais da história, e a esposa do Ramón chega com os filhos pra acabar a corrida com ele, me vi com o Jota, com o Francisco, com os filhos que queremos ter, juntos; lutando para conseguir nossos 100 metros diários, juntos, como deve ser, com aqueles que nos amam e nos apoiam ali, ao lado, apoiando, aplaudindo e carregando a gente no colo, muitas vezes.
Porque não é fácil. Não é simples. Mas é possível. E é possível sorrindo, vendo a beleza de cada momento, de cada aprendizado.
Nisso eu me reconheço em Ramón. Porque e

ssa foi a escolha que eu fiz. Não de fazer uma prova esportiva quase sobre humana, mas viver cada dia, com toda a humanidade que me cabe, com todo amor que sinto, com toda a leveza que viver merece e percorrer meus particulares 100 metros.
Até mais!
Bjs